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Como se aposentar milionário


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Fonte: Funenseg / Fonte: Fenaprevi

Os brasileiros já se deram conta de que precisam se planejar para ter tranquilidade no futuro. Eis as melhores formas de fazer isso

José Fucs, COM MARIA LAURA NEVES E JOÃO LOES

Nada disso faz sentido - trabalhar 15 horas por dia, controlar o orçamento doméstico, economizar cada centavo a mais que entra na conta-corrente -, se não der para sonhar com um futuro mais tranqüilo. Uma praia vazia com a areia branca e fofa sob os pés. Um chalé na montanha com a pessoa que você ama, ao lado da lareira ou numa caminhada em meio à natureza exuberante. Não apenas um refúgio para o fim de semana, mas sua moradia permanente.

Para muita gente, isso pode até parecer poesia de mesa de bar. Não é. A vida boa na terceira idade é possível e - acredite - depende apenas de nós mesmos. Muitos brasileiros já se deram conta disso. Hoje, de acordo com dados da Fenaprevi, a entidade que reúne as empresas de previdência privada e seguro de vida, 8 milhões de pessoas têm planos de aposentadoria no Brasil. Há dez anos, não havia mais de 1 milhão.

Agora, ao contrário do que acontecia antes, não é apenas o pessoal da meia-idade, eufemismo usado para designar o grupo da população que tem entre 40 e 55 anos de idade, que está preocupado com o assunto. Até a moçada que acabou de sair da adolescência passou a se interessar em garantir, desde já, seu futuro. "Meu plano é parar de trabalhar com 45 anos, viver de renda e viajar o mundo", afirma o empresário Tiago Ribeiro, de 24 anos. Ele diz que aplica R$ 400 por mês em um fundo de previdência privada, que mescla aplicações na Bolsa de Valores e em fundos de renda fixa. Daqui a 21 anos, poderá ter acumulado uma poupança de R$ 1 milhão (considerando uma rentabilidade média de 15% ao ano acima da inflação, uma estimativa razoável caso a Bolsa mantenha o desempenho positivo dos últimos anos). Se quiser, poderá acumular R$ 10 milhões com a mesma poupança mensal. Basta se aposentar aos 62 anos, em vez de fazê-lo aos 40.

Na reportagem especial que se estende até a página 84, ÉPOCA mostra como você pode chegar lá também, com informações sobre os principais planos existentes no mercado e as empresas de previdência privada que estão cuidando melhor de seu dinheiro. O especial traz também um roteiro com os fatores que você deve levar em conta para escolher o plano que merece receber sua poupança. Mesmo quem já tem seu plano poderá encontrar dados para avaliar se é ou não hora de transferir o dinheiro para outra empresa de previdência. Para produzir este guia, ÉPOCA conversou com duas dezenas de executivos do setor e consultores da área, do Brasil e do exterior.

Com o achatamento dos benefícios pagos pela Previdência Social, ficou claro que quem não assumir a própria responsabilidade não vai conseguir manter sua qualidade de vida atual na aposentadoria. Na rede oficial, os maiores benefícios não passam de R$ 3 mil, o equivalente a menos de oito salários mínimos. "As pessoas começaram a entender a necessidade de fazer a própria poupança para a aposentadoria para ganhar mais do que os valores básicos garantidos pelo governo", diz Marco Antonio Rossi, presidente da Bradesco Vida e Previdência.

Outro motivo para o sucesso da previdência privada é que os horizontes se alargaram. Hoje é possível pensar no longo prazo, em vez de lutar para manter o poder de compra da moeda, como acontecia nos tempos da superinflação. Aos poucos, o Brasil vai se tornando um país em que é possível se planejar. "A estabilidade é a grande responsável pelo crescimento da previdência privada no país", diz o economista Eduardo Bom Angelo, ex-presidente da Brasilprev, a empresa controlada pelo Banco do Brasil que atua no setor. "Com inflação alta, as pessoas não têm estímulo para fazer poupança de longo prazo."

Outra questão importante: com os avanços da medicina e o desenvolvimento do país, a expectativa de vida está cada vez maior. Em 60 anos, os brasileiros passaram a ter uma expectativa de vida quase 30 anos maior. Segundo uma pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida da população era de 42,7 anos em 1940. Em 2000, chegou a 70,4 anos. Em 2006, já estava em 72,3 anos. As mulheres vivem mais, até 75,8 anos, em média. "Hoje, o homem tem um plano e a mulher tem outro", afirma Osvaldo Nascimento, diretor-executivo da Itaú Vida e Previdência.

Se excluirmos do índice a população da faixa de menor renda, na qual a mortalidade infantil é maior, a expectativa de vida sobe ainda mais, para perto dos 80 anos. É quase 15 anos a mais que a idade legal para aposentadoria por tempo de serviço no país, o equivalente a um quinto da vida. Segundo Rossi, se considerarmos a expectativa de vida nacional só de quem chega aos 50 anos, ela também está perto dos 80 anos. É uma ótima notícia. Mas ela impõe a responsabilidade de cuidar para, nesse tempo de vida extra, não passar necessidades.

Houve ainda uma tremenda modernização dos planos de previdência privada no país, a partir da implantação do Plano Real, em 1994. Inspirados em modelos de sucesso adotados no exterior, principalmente nos Estados Unidos, os planos agora oferecem benefícios fiscais aos investidores para estimular a poupança de longo prazo. Eles também se tornaram bem mais flexíveis. Hoje, é possível escolher em que você quer aplicar seu dinheiro, de acordo com seu perfil de risco. Se você aplicar suas economias num fundo de previdência e não ficar satisfeito com o resultado, pode transferir o dinheiro para o plano de outra empresa, sem perder os incentivos fiscais. Além disso, a gestão dos recursos da clientela se tornou mais profissional e transparente. "Para o cliente, o mundo da previdência melhorou muito, em decorrência do aumento brutal de informação oferecida pelas empresas", diz Bom Angelo. "O brasileiro pode ter orgulho do atual sistema de previdência privada do país", afirma Renato Russo, vice-presidente de Vida e Previ

dência da Sul América, uma das maiores seguradoras do país.

Até o fim de 2008, segundo o presidente da Fenaprev, Antônio Cássio dos Santos, da Mapfre Seguros, uma nova safra de planos deverá chegar ao mercado. Serão produtos desenvolvidos para quem quiser formar uma poupança para custear os gastos com saúde na terceira idade ou para garantir os recursos para o pagamento de uma faculdade para os filhos. Hoje, muita gente usa os fundos de previdência privada para fazer isso. Em 2007, de acordo com dados da Sul América, o volume de investimento realizado em nome de menores em planos de previdência cresceu 80%, de R$ 1,1 bilhão para R$ 2 bilhões. A idéia é conceder isenção fiscal para os novos planos e está em negociação avançada com a Receita Federal e a Susep, o órgão que cuida da regulação e da fiscalização do mercado de seguros e de previdência privada no país. Estuda-se também um plano específico para pequenas empresas. Aqui, o objetivo é oferecer um atrativo para que os empresários de pequeno porte tenham interesse em oferecer o benefício a seus empregados. Discute-

se a possibilidade de que as despesas com a previdência privada dos funcionários sejam deduzidas do Imposto de Renda como despesas operacionais. "São projetos ousados que devem estimular ainda mais o crescimento da demanda por planos de previdência no país", diz Santos, da Fenaprevi.

Ele não acredita que o limite de crescimento da previdência privada no país tenha sido alcançado, como afirmam alguns analistas. Segundo seus cálculos, o potencial do mercado é de cerca de 34 milhões de investidores com renda superior a R$ 1.000 por mês, quase cinco vezes mais que o contingente que já tem plano de previdência hoje. Para Santos, até uma parcela da classe D tem condições de ter um plano para garantir uma aposentadoria sem sobressaltos financeiros. Hoje, já há planos populares, voltados para as classes de menor renda, em que é possível acumular uma poupança de R$ 50 mil, que garanta uma renda complementar na aposentadoria de R$ 350 por mês, com uma contribuição de apenas R$ 25 mensais durante 35 anos. No Brasil, hoje, a previdência privada representa apenas 18% do PIB. Nos Estados Unidos, são 75%. No Chile, onde o sistema de previdência era totalmente privado até pouco tempo atrás, 64%.

A julgar pelo resultado de um estudo feito em 2007 pelo HSBC em todo o mundo, inclusive no Brasil, intitulado A Nova Aposentadoria, há uma grande transformação em curso na expectativa dos investidores em previdência privada. De acordo com a pesquisa, que envolveu 1.001 entrevistados no país com idade entre 40 e 79 anos, ter 70 anos hoje é como ter 50 na década de 1960. Em vez de querer aproveitar a vida, depois de anos e anos de trabalho duro, 71% querem continuar na ativa mesmo ao se aposentar. Alguns sonham até em abrir um negócio para não ter de parar de trabalhar.

Segundo a professora carioca Lucia França, autora do livro O Desafio da Aposentadoria (editora Rocco), isso não se deve apenas ao aumento da expectativa de vida, mas também ao fato de o trabalho ser o local onde formamos boa parte de nossa rede social. "Nos tempos atuais, se a pessoa vestir o pijama quando se aposentar ele vai ficar puído", diz Lucia. "Se ela não desenvolver algum tipo de atividade profissional ou de estudos, seu círculo social tende a ficar muito reduzido." O novo ideal dos aposentados tem menos a ver com assistir à TV de pijama que com uma vida ativa, às vezes até com novos investimentos. Mais um motivo para ter dinheiro no bolso quando for se aposentar.


FÉ NA BOLSA

Nome: Tiago Pedroso Ribeiro

Idade: 24 anos

Profissão: comerciante

Tipo de plano: VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres)

Portfolio: 40% em ações e 60% em renda fixa

Retorno estimado anual: 15%

Início: 2005

Contribuições mensais: R$ 400

Idade de aposentadoria: 45 anos

Poupança provável: R$ 1 milhão

Idade para se aposentar com R$ 10 milhões: 62 anos

Aposta nas ações para rodar o mundo

O comerciante paulistano Tiago Ribeiro começou a trabalhar aos 14 anos, para ajudar o pai na empresa da família, a Work-Ville, uma indústria têxtil especializada em equipamentos de segurança para a indústria, com sede em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Hoje, aos 24 anos, é seu braço direito nos negócios. Ribeiro diz que ganha R$ 3 mil e mora sozinho num apartamento próprio. Há três anos, decidiu fazer um plano de previdência privada para não depender apenas dos proventos da Previdência Social na aposentadoria. "Minha geração cresceu sabendo que não pode contar com o governo para ter uma boa pensão lá na frente", afirma.

Ribeiro diz que, tão logo passou a ter uma renda razoável, procurou o gerente de seu banco, o Bradesco. "Ele me mostrou algumas aplicações e eu escolhi a mais rentável", afirma. Optou por um plano do tipo VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres) com ações.

Segundo ele, o plano rendeu 20% ao ano, em média, nos últimos três anos. A primeira aplicação foi de R$ 100. Atualmente, ele faz aportes mensais de R$ 400 para atingir a meta de R$ 1,5 milhão de poupança aos 40 anos. "Escolhi um plano agressivo, porque acredito que a economia do país tende a melhorar, com reflexo positivo na Bolsa", diz. "Meu plano é parar de trabalhar, viver de renda e viajar o mundo."

SEGURANÇA NA MATURIDADE

Nome: Ronaldo Gelain

Idade: 58 anos

Profissão: administrador de empresas

Tipo de plano: PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres)

Portfolio: 100% em renda fixa

Retorno estimado anual: 10%

Início: 2003

Contribuição anualN: R$ 45 mil

Idade de aposentadoria: 65 anos

Poupança ao se aposentar: R$ 1 milhão

Renda ao se aposentar: R$ 9.500 mensais

Cautela para garantir a aventura

O executivo paulistano Ronaldo Gelain, funcionário da West Farmaceutical Services, especializada na produção de material farmacêutico, está a apenas dois anos da aposentadoria. Aos 58 anos, ele diz que a rotina de trabalho estressante o impede de se dedicar a seu maior hobby: as motocicletas. Ele é dono de três motos Harley-Davidson, ícone dos motoqueiros de todo o planeta. Divorciado, pai de dois filhos já casados, Gelain pretende montar numa de suas motos e sair por aí, como os atores Peter Fonda e Dennis Hopper no clássico Sem Destino, dirigido por Hopper (1969). "Vou viajar de moto para tudo que é lugar. Vai ser uma delícia", diz.

Para transformar seu sonho em realidade, Gelain entrou num plano de previdência privada há cinco anos. Como entrou tardiamente, a poucos anos da aposentadoria, não quer correr riscos desnecessários com seu patrimônio. Optou por um fundo PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres), do HSBC, sem ações. Ele conta que fez um aporte inicial de R$ 100 mil. Desde então, diz que tem feito contribuições anuais de R$ 45 mil, de uma única vez. Seu objetivo é ter uma renda mensal na aposentadoria equivalente a R$ 9.500 hoje.

PORTFOLIO EQUILIBRADO

Nome: Fernanda Serato de Castro Batista

Idade: 30 anos

Profissão: analista de sistemas

Tipo de plano: VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres)

Portfolio: 20% em ações e 80% em renda fixa

Retorno estimado anual: 12%

Início: 2007

Contribuições mensais: R$ 100

Idade de aposentadoria: 55 anos

Poupança ao se aposentar: R$ 119 mil

Renda ao se aposentar: R$ 310 mensais

Planos para montar um negócio próprio

Em outubro de 2007, depois de conversar com amigos e colegas de trabalho, a analista de sistemas Fernanda Serato de Castro Batista, de 30 anos, conta que decidiu fazer um plano de previdência privada. Segundo ela, o objetivo é financiar a abertura de um negócio próprio para ela garantir seu sustento na aposentadoria. "Meu sonho é abrir um bufê de festas infantis", diz. "Escolhi um plano de previdência privada porque rende mais que a poupança."

Casada e mãe de um filho de 1 ano, ela afirma que prefere não correr riscos na hora de investir no futuro. Contribui com R$ 100 mensais, o máximo que diz conseguir poupar do salário de R$ 4 mil. Escolheu um plano de previdência VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres), com perfil de risco moderado. Pretende resgatá-lo aos 55 anos. Se não fizer mais aportes até lá, além da contribuição mensal, vai resgatar R$ 119 mil. Se optar pelo resgate em forma de renda vitalícia, vai ganhar R$ 310 por mês. "Como a renda mensal é muito baixa, quero usar o dinheiro para continuar trabalhando."


Os donos do dinheiro

Quais são as 10 maiores empresas de previdência privada do país - em % do total

Bradesco - 41,0

Itaú - 16,4

Brasilprev- 12,7

Unibanco AIG - 6,9

Caixa - 4,4

Real Tókio Marine - 4,0

Santander

- 3,9

HSBC - 3,2

Icatu Hartford - 1,8

Sul América - 1,2

Outras - 4,6


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