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Autopeça reaproveitada fica 50% mais barata na Argentina


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Fonte: Valor Econômico | Empresas | SP

O mercado de autopeças reaproveitadas e a reciclagem de carros é cada vez maior na Argentina, três anos depois da aprovação de uma lei que regulamentou os desmanches e a venda de peças recuperadas de

carros acidentados ou roubados.

A maior recicladora do país, a Cesviauto, uma divisão do Centro de Segurança Viária (Cesvi), já vendeu 25 mil peças reaproveitadas desde quando começou a atividade em 2005. As peças são produzidas a partir do

desmanche legalizado de 250 automóveis por mês. A grande vantagem é o preço ao consumidor, que sai em média 30% mais barato. Mas pode ser bem menos, dependendo da peça. Uma porta do Gol, que custa

cerca de 1.200 pesos (R$ 662) nas concessionárias portenhas, sem nenhum complemento, pode baixar a 650 pesos (cerca de R$ 360) se for reaproveitada, ou seja, pouco mais da metade. Um farol dianteiro completo

para o mesmo Gol custa 60 pesos no Cesviauto, enquanto nas concessionárias sai por 320 pesos.

O trabalho de reciclagem da Cesviauto envolve 50 funcionários que trabalham em um galpão de seis mil metros quadrados em Pilar, na Grande Buenos Aires. "Recebemos os veículos batidos ou resgatados de roubos

pelas seguradoras, fazemos a descontaminação (drenagem de fluidos de freio, ar condicionado, óleo, etc), tiramos as peças e levamos o carro para a compactação", explica Marcelo Aiello, diretor de Relações

Institucionais da Cesvi. Todo o projeto é autofinanciado com a venda das peças, diz Aiello.

Criada na Espanha pela seguradora Mapfre, a Cesvi é um centro de pesquisas e testes viários e automotivos, mantido por outras seis companhias de seguros. Tem filiais em vários países inclusive no Brasil.

O projeto de reciclagem de autopeças surgiu nas seguradoras em 2002 e teve o apoio das montadoras, das concessionárias e redes de revenda pela perspectiva de acabar com os desmanches ilegais, conta Aiello. Era

o auge da pior crise financeira já experimentada pela Argentina. Em meio ao caos de um país assolado por uma queda de mais de 10% do Produto Interno Bruto e metade da população sendo atirada abaixo da linha

da pobreza, o roubo de carros explodiu, causando enormes prejuízos às seguradoras.

Como os argentinos não tinham dinheiro para comprar carro novo, nem usado, a demanda por autopeças e reparo dos carros velhos disparou e com ela o número de ladrões de automóveis que abastecem

desmanches clandestinos. As seguradoras acumulavam prejuízos com a disparada da sinistralidade. Para solucionar o problema, todo o setor automobilístico se uniu para levar ao Congresso e ao governo uma

proposta de regulamentação da atividade de desmanche.

No primeiro semestre de 2003 o Congresso argentino aprovou a Lei 25.761, chamada "Lei do Desmanche", que estabelece um regime legal para pessoas físicas e jurídicas que vivem do negócio, abrangendo também

as que negociam peças usadas, seja como atividade principal, seja secundária.

Antes não se sabia quantos desmanches havia na Argentina. Hoje há 219 estabelecimentos cadastrados no Registro Único de Desmanches de Automotores e Atividades Conexas (Rudac), órgão público que

regulamenta o setor. Não há dados sobre o número de autopeças reaproveitadas vendidas no país. "Ainda há clandestinos porque a polícia não consegue fazer um controle totalmente efetivo", diz Aiello.

Segundo a Associação dos Fabricantes de Autopeças (Afac), o maior benefício da regulamentação foi ter diminuído o roubo de veículos e a venda de suas peças. A Afac mantém uma campanha permanente contra o

comércio de "autopeças ilícitas", em parceria com a associação dos fabricantes de veículos, a Adefa.

Procurados pela reportagem do Valor, nenhum representante da Afac quis dar entrevista sobre o tema. Mas respondendo a um questionário enviado por e-mail, um porta-voz da entidade declarou que "as autopeças

de origem ilícita provêm de roubos que se praticam nas vias públicas, muitos deles de forma violenta e com vítimas fatais".

Ao ser questionado sobre a posição da entidade quanto à reaproveitamento de peças usadas, o porta-voz não respondeu diretamente, mas insistiu que a Afac alerta contra autopeças de origem duvidosa, deixando

entender que há uma certa resistência a abordar o tema.


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