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Produto atende público de baixa renda


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Fonte: Gazeta Mercantil | Da Redação | SP

No Brasil, segundo a Susep, o potencial do microsseguro é de 100 milhões de pessoas

De olho no elevado potencial que a massificação de seguros possui no Brasil, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) entregará ao governo, em dezembro deste ano, o texto de regulamentação do microsseguro, um segmento que poderá atingir mais de 100 milhões de pessoas que não possuem seguro no País, mas têm rendimento mensal de até dois salários mínimos. A expectativa da instituição é que o produto entre em vigor já no primeiro semestre de 2010.

O valor máximo que poderá ser cobrado dos consumidores pelas apólices ainda é pauta em discussão na Susep, mas, segundo estimativas da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), o valor do microsseguro pode chegar ao equivalente a US$ 7. "As apólices para famílias de baixa renda podem movimentar R$ 4 bilhões anualmente, um mercado potencial maior do que o da China e da Índia", afirma Antonio Cássio dos Santos, presidente da instituição.

Embora aderir à comercialização de um produto que traz baixas margens de lucro no curto prazo não pareça uma boa alternativa em primeira análise, o mercado vê no microsseguro boas oportunidades de expansão com ganho de escala, especialmente porque o ramo segurador representa apenas 3% do PIB nacional - enquanto no Chile, ele chega a 10%.

"Grande parte desse segmento aqui no Brasil, contudo, está concentrada nas classes A e B. Embora seja uma camada que ainda tem potencial de expansão, o mercado está percebendo que nas camadas C, D e E estão as melhores alternativas de evolução", afirma Boanerges Ramos Freire, sócio-diretor da consultoria financeira Boanerges & Cia. "Essa é uma tendência natural nos negócios. A primeira estratégia das empresas quando lançam um produto é buscar públicos que sustentem a oferta, que é o topo da pirâmide. A exemplo dos cartões de crédito, somente as pessoas de alto poder aquisitivo possuíam o plástico nas primeiras décadas de vendas, iniciadas nos anos 50. Hoje ele está bastante massificado e, justamente por conta disso, cresce significativamente. O seguro está nesse caminho", fundamenta.

Para conquistar novos clientes, porém, as seguradoras encontrarão alguns obstáculos, como a falta de conhecimento do produto por parte das camadas mais populares, o que leva muitas pessoas a não entender a necessidade de possuir um microsseguro.

Na prática

O microsseguro deve ter uma estrutura bastante simples, para que seja comercializado com baixos custos operacionais. "Como o ramo não renderá elevados prêmios em um primeiro momento, é praticamente impossível que a venda seja feita individualmente por corretores. A comercialização deverá ser feita, portanto, por meio do varejo, como já ocorre com os seguros massificados, que são distribuídos até em conta de água, luz e telefone", afirma Antonio Penteado Mendonça, advogado especializado em seguros.

De acordo com Mendonça, o primeiro passo para a disseminação do microsseguro no mercado é a mudança de postura de seus players. "Todo o processo de comercialização deverá ser muito mais prático. As cláusulas da apólice precisam ser bastante claras e transparentes, para evitar problemas jurídicos na hora de ressarcir o segurado, um processo bastante caro para as empresas. Além disso, será preciso reduzir burocracias na comprovação do sinistro. Toda a papelada custa muito mais que o preço do microsseguro", explica.

Outra alternativa que garantiria uma forte penetração do produto no mercado é a criação de políticas públicas nesse segmento, a exemplo da Índia. Naquele país, cabe ao governo adquirir o microsseguro e distribuí-lo à população de baixa renda. "Esse é um caminho que traria ótimos resultados aqui no Brasil, visto que o seguro movimenta a economia de forma mais eficiente que o Bolsa Família", diz Mendonça. "Imóveis em regiões carentes teriam seguro, medida que fomentaria os pequenos negócios, pois os riscos de perda de investimentos do microempreendedor seria reduzido em caso de assalto", exemplifica.

Assim como ocorreu com a caderneta de poupança, para Carlos Luporini, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA), as apólices de microsseguro devem ser disponibilizadas de forma digital à população, reduzindo custos de administração do produto por parte das seguradoras. "Há muitos anos o cliente tinha de ir até a agência para carimbar sua caderneta com o objetivo de atualizar movimentações financeiras. Atualmente, o produto não passa de uma linha em um extrato impresso", ressalta. De acordo com o especialista, uma possibilidade para tornar o microsseguro barato às seguradoras é a digitalização da documentação e dos processos de contratação e resgate do sinistro.

Massificados

Enquanto o microsseguro não entra em vigor, o mercado investe significativamente no affinity, estratégia de vendas que agrega diversos produtos em um pacote e aponta o varejo, de farmácias, supermercados a lojas de roupas, como a melhor forma de penetração nas camadas mais populares. Por meio de affinity as seguradoras vendem um grupo de apólices utilizando lojas e empresas com as quais as pessoas se relacionam como canal de distribuição.

Segundo o economista Gustavo Tavares, sócio da Correta Seguros e professor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg), grande parte das apólices de acidentes pessoais, desemprego e seguros contra roubos, em especial de cartões, é vendida por conta do varejo. "As seguradoras vêm ganhando clientes que jamais poderiam ter por conta da parceria, pois não chegavam às camadas mais populares com os canais convencionais de distribuição", destaca.

Embora a Susep não tenha dados consolidados sobre seguros massificados, Tavares explica que é possível estimar o tamanho do segmento por meio do crescimento de "eventos aleatórios", ramo que abrange a maioria dos produtos comercializados em affinity e de títulos de capitalização, atrelados a quase 90% das vendas dos massificados no País.

Balanço

Somente no acumulado até julho deste ano, o segmento de capitalização atingiu alta de 14% na comparação com os sete primeiros meses de 2007, contabilizando R$ 4,9 bilhões em volume de prêmios. Já a renda de eventos aleatórios apresentou expansão de 110% nos últimos quatro anos, encerrando 2007 com R$ 395 milhões em prêmios. No acumulado até julho deste ano, porém, a alta foi de apenas 2%, totalizando R$ 224 milhões em prêmios.

(Gazeta Mercantil/relatorio - Pág. 6)


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