Notícias

Em tempos de crise, mude de plano de previdência


Fonte:

Fonte Jornal da Tarde - São Paulo - SP

Queda das bolsas também afetou as carteiras de renda variável, mas não vale a pena sacar o dinheiro. Em vez disso, opte pela migração das aplicações para fundos mais seguros, como aqueles atrelados à renda fixa.

Em momentos de crise econômica, como a vivida atualmente por conta dos problemas no mercado norte-americano, é comum que os investidores corram aos bancos e seguradoras para sacar o dinheiro aplicado em previdência privada ao longo dos anos, como tentativa de evitar prejuízos financeiros. Nem todos sabem, mas é possível resolver o problema de forma simples e sem resgatar os investimentos: basta migrar os recursos de uma conta ligada à rentabilidade em aplicação variável, que realmente oferece riscos de perda, para fundos atrelados à renda fixa, que são bem mais seguros e, conseqüentemente, menos lucrativos.

Essa alternativa, segundo a advogada Andrea Nogueira Neves, sócia do escritório Velloza, Girotto e Lindenbojm Advogados Associados, garante segurança às aplicações e não envolve nenhum custo para o titular do investimento. "A portabilidade dos planos de previdência privada é possível dentro da mesma empresa ou, se o segurado preferir, para qualquer outra seguradora", explicou. "A pessoa não paga nenhuma taxa para efetuar a migração", disse.

A lei garante às pessoas o direito de migrar entre aplicações na mesma operadora, ou seja, trocar um investimento por outro menos arriscado. Há também a alternativa de buscar novas opções em outras empresas de previdência.

O problema é que as instituições cobram encargos diferentes para administrar a conta, então, o segredo, antes de aderir à portabilidade, é pesquisar atentamente as taxas de administração.

Mesmo sendo uma opção viável para fugir das oscilações do mercado, os usuários devem ficar atentos às regras válidas para a portabilidade. Só é possível migrar de um fundo para outro se os dois tiverem o mesmo tipo de tributação: progressiva ou regressiva.

O segurado que possui um Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) também só pode trocar por outro desse mesmo estilo, e quem possui um Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) também fica limitado a migrar para um plano igual. Outra regra é que, caso o segurado mude de instituição, é preciso esperar um prazo de 60 dias antes de recorrer à portabilidade novamente. "Mas se a migração for dentro da mesma seguradora, a instituição pode conceder a carência que quiser, mesmo que seja de apenas um dia", exemplificou a advogada.

O aposentado Gilmar Rodrigues Pinto, 73 anos, aplica em previdência privada há cerca de dez anos, quando se aposentou. Na ocasião, ele investiu todo o dinheiro da conta do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em um PGBL. "Queria ajudar meu filho a comprar uma casa, mas como ele conseguiu construir antes, resolvi aplicar o dinheiro. Quem sabe meus netos não vão precisar um dia?"

Pinto, no entanto, não consegue permanecer em uma mesma aplicação por muito tempo. Economista por formação e consultor financeiro por profissão, exercida durante 22 anos, o aposentado possui mais de uma conta de previdência - o que não o impede de migrar constantemente seus investimentos. "Sou muito inquieto, então, quando percebo que um dos fundos não está rendendo bem, ligo correndo para o meu gerente solicitando a troca. Quando ligo, ele até sabe o que quero", brincou.

Segundo a advogada Andrea Nogueira Neves, os bancos e empresas de previdência privada têm uma semana para liberar a portabilidade do dinheiro, contado a partir da data de solicitação. Em caso de descumprimento desse prazo, as pessoas podem procurar a Superintendência de Seguros Privados (Susep) para fazer uma denúncia. A entidade poderá autuar a empresa. Para entrar em contato, basta acessar o endereço eletrônico www.susep.gov.br.

GLOSSÁRIO

VGBL

O modelo Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) é uma opção mais indicada para os contribuintes de menor renda e para aqueles que declaram o Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) em formulário

simplificado.

PGBL

Pelo Plano Gerador de benefício Livre (PGBL), a pessoa tem até o fim de cada ano para abater até 12% da renda bruta da base de cálculos do IR.

TRIBUTAÇÃO REGRESSIVA

Sistema de tributação que beneficia quem mantém o investimento por mais tempo. Quanto maior o prazo, menor é a alíquota de imposto.

TABELA PROGRESSIVA

Mais recomendada para segurados que pretendem investir a curto prazo.

Compare as taxas antes de fazer a troca

Embora o dispositivo da portabilidade seja bastante acessível e, principalmente, sem custos, a troca de um plano de previdência só deve ser feita depois de muito estudo do comportamento do mercado. Se for possível, é sempre bom conversar com um especialista ou mesmo com o gerente da conta, para ter certeza dos benefícios.

O advogado e professor universitário Jaime Santos, pós-graduado em direito previdenciário, aconselha os segurados a migrarem de plano somente quando tiverem certeza das vantagens oferecidas pela nova carteira. "As pessoas devem analisar não somente a rentabilidade, mas também as taxas cobradas pela instituição financeira. Se os encargos forem mais altos, pode ser que a rentabilidade se anule e, com isso, seja ‘trocar seis por meia dúzia", disse ele, que afirma ter uma conta de previdência há oito anos, nunca migrada.

Outra alternativa para ampliar os rendimentos, sem a necessidade de ficar mudando de fundo para conseguir lucrar mais, é abrir mais de um investimento. "As pessoas devem se acostumar a investir para fazer o dinheiro render, mas devem ter mais de uma fonte de rentabilidade. Se uma carteira não tiver um bom desempenho em determinado mês, outra pode compensar a falta de lucratividade", orientou o economista Luís Carlos Ewald, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo a advogada Andrea Nogueira Neves, a migração é uma boa opção para quem pretende mudar o perfil da aplicação em previdência.


« Voltar