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Baixa renda é garantia de fôlego para o mercado


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Fonte: Valor Econômico | Da Redação | SP

O sonho do brasileiro de ter uma previdência privada hoje está ao alcance das mãos. À medida que as operadoras passaram a adotar planos com valores que chegam a R$ 20,00 mensais, ou seja, abaixo dos R$ 50,00 exigidos pela caderneta de poupança, o Vida Gerador de Benefícios Livre (VGBL) não parou de crescer. E não é só isso. O perfil desse contribuinte também mudou. Hoje essa nova fatia de investidores tem uma renda mensal entre dois e três salários mínimos diante dos contribuintes que antes pertenciam apenas às classes B e C+. Representam algo em torno de um terço do mercado, em quantidade de pessoas e não em volume de arrecadação, em função do valor pago. A idade média desse consumidor também mudou. O comprador de VGBL tem hoje, em média, 34 anos de idade. Há sete anos era ao redor de 43 anos.

"Trouxemos para dentro do sistema milhões de pessoas com a mesma necessidade, mas que achavam que a previdência seria uma coisa muito distante", afirma Marco Antonio Rossi, diretor presidente da Bradesco Vida e Previdência e vice-presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Impulsionada também pela inserção de uma classe social menos favorecida economicamente, o incremento da indústria previdenciária no Brasil, na opinião de Rossi, se deve ainda a outros fatores, como a clareza que a população começa a ter de que apenas o ganho proveniente da Previdência Social não será suficiente para custear os gastos do dia-a-dia, após a aposentadoria. "O segmento de baixa renda deverá crescer entre 30% e 40% em 2009", estima o vice-presidente da Fenaprevi.

Para o vice-presidente da Fenaprevi, outro fator positivo que colaborou com o crescimento desse setor foi a estabilidade econômica vivida pelo país nos últimos anos. "Isso permitiu ao consumidor um planejamento mais sustentado, atrelado ao fato de as pessoas estarem mais preocupadas com o benefício tributário e a longevidade", resume. O avanço da medicina preventiva e corretiva associada a melhorias nos serviços públicos e de saneamento, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aumentou a expectativa de vida em quase três anos em uma única década.

Com a chegada desse novo perfil de contribuinte ao setor de previdência privada houve uma segmentação de mercado, segundo Renato Russo, vice-presidente de Vida e Previdência do SulAmérica e diretor da Fenaprevi. "Em função dessa segmentação, as indústrias estão operando com tíquetes baixos, o que favorece todos os bolsos. Portanto, esse mercado continuará crescendo com ou sem crise", afirma. De acordo com ele, "à medida que há perspectiva de crescimento econômico, embora baixo, teremos o crescimento em termos de renda". Isso significa, na sua opinião, que a crise econômica não irá provocar danos profundos no setor. Para Russo, o que poderá ocorrer será um crescimento inferior ao registrado neste ano. Para ele, 2008 encerra com alta de 40%. "No próximo ano a taxa de crescimento deverá ficar ao redor de 25%", projeta.

"O incremento nesse mercado irá se manter no ano seguinte, devendo ficar em 30%", garante João Batista Mendes Angelo, superintendente de produtos da Brasilprev Seguros e Previdência S/A. Segundo ele, percebe-se nesse mercado de previdência de baixa renda que a meta do contribuinte não é "formar uma reserva complementar para a aposentadoria, mas contribuir com a vida dos filhos no futuro". Pesquisa realizada pela empresa revela que os planos de baixo tíquete ainda estão muito associados a essa intenção. O vice-presidente da Fenaprevi ressalta que o VGBL "é utilizado também como processo de poupança de longo prazo. Se é preciso planejar a escola dos filhos, por exemplo, a previdência passa a ser um instrumento natural para planejar isso, podendo poupar por 10 ou 20 anos", ressalta.

De acordo com Rossi, o fato é que as pessoas estão cada dia mais preocupadas em relação ao futuro. Os números computados pela Fenaprevi endossam a afirmação do diretor-presidente. Em setembro de 2008, o mercado de previdência privada registrou captação de R$ 2,4 bilhões , um crescimento de 23,2% em relação aos R$ 1,9 bilhão obtidos no mesmo mês de 2007. No penúltimo trimestre deste ano, a captação chegou a R$ 7,2 bilhões, acréscimo de 10,9%, sobre os R$ 6,5 bilhões alcançados em igual período do ano anterior. Otimista Rossi prevê que o setor de previdência privada, apesar da crise, continuará em alta. "Teremos um impacto por conta disso, mas ainda não dá para prever. O fato é que continuaremos a crescer", destaca.

Mas ainda assim, o vice-presidente da Fenaprevi afirma que no Brasil ainda não existe uma cultura na área de previdência privada. "Se houvesse um canal de comunicação direto com o consumidor de baixa renda, o crescimento seria muito superior ao verificado", exemplifica. Para tentar atrair um número cada vez maior para a sua carteira, a Bradesco Vida e Previdência lançou mão de uma parceria com a Rádio Globo para "educar" esse cliente. "Temos um programa direcionado a uma camada da população de baixa renda, que esclarece ao ouvinte a importância do seguro de forma bem simples", ressalta.

Os especialistas do setor afirmam que o Brasil ainda é um mercado embrionário na área de previdência privada. Segundo dados da Fenaprevi, os contribuintes somam cerca de 10 milhões. "Ainda há muito a crescer", diz Rossi. Na tentativa de expandir suas carteiras, as seguradoras fazem de tudo para fidelizar a clientela. Entre as estratégias estão maior segmentação de produtos, treinamento de equipes para venda consultiva e campanhas publicitárias alinhadas ao perfil do aposentado.


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