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Fundos consolidam atuação no Brasil


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Fonte: Outros p. 8/15

Ao contrário de muitos setores da economia que estão adiando os seus planos de investimento, o mercado de private equity continua bastante aquecido. A crise financeira internacional tem gerado oportunidades para esses investidores, que têm aproveitado a queda do preço dos ativos para realizar novas aquisições.

Com US$ 26,6 bilhões de capital comprometi-do, dos quais cerca de 58% já foram investidos, a indústria de private equity tem crescido no Brasil e conta hoje com 142 gestores, que reúnem 181 fundos (os chamados veículos de investimento), envolvendo 1.414 profissionais, segundo pesquisa realizada com gestores de fundos pelo Centro de Estudos de Private Equity da Fundação Getúlio Vargas (GVcepe) e pelo Instituto Endeavor. O estudo mapeou 142 gestores, sendo que 127 responderam à pesquisa e 121 autorizaram a divulgação de seus dados, publica-dos nesta edição de GazetaInveste. Quinze empresas não participaram da pesquisa e quatro investidores-anjo tem seu perfil analisado pela primeira vez. Os dados foram levantados até 30 de junho de 2008.

O Brasil tem ganhado destaque entre os investidores estrangeiros e, apesar da expectativa de uma desaceleração da economia mundial, a pesquisa aponta que 71% dos gestores afirmaram que pretendem levantar novos fundos nos próximos três anos, para os quais estimam captar no mínimo mais US$ 20,915 bilhões, quase o dobro do total levantado até 30 de junho, o que demonstra a confiança desses investidores no país.

Os recursos são captados junto a investidores institucionais, como fundos de pensão, que responderam em zoo8 por So% das captações, fundos soberanos de governo e empresas públicas, instituições financeiras, endowments (fundos de doações a universidades), seguradoras e pessoas físicas de alta renda.

No ano passado, foram levantados 37 fundos que captaram US$ 9,3 bilhões, valor fechado até 30 de junho de 2008. Neste ano, até o primeiro semestre, foram abertos 24 fundos, que captaram US$ 2,6 bilhões. Só entre os quatro principais gestores em atividade no mercado brasileiro, a norte-americana Advent International, GP Investments, Gávea Investimentos e Pátria Investimentos, foram captados recentemente cerca de US$ 4 bilhões para investimentos.

A Advent International levantou no ano passado seu quarto fundo voltado para a América Latina, Lapef IV (Latin American Private Equity Fund IV), de US$ 1,3 bilhão, que já investiu em seis empresas, sendo três no Bra-

sil. "Temos analisado investimento nos setores de varejo, serviços financeiros e educação", afirma Patrice Etlin, sócio da Advent no Brasil. Há rz anos no país, a Advent já investiu em cerca de 20 empresas, somando aportes de US$ 1,5 bilhão. "O momento é interessante para os fundos que estão capitalizados, uma vez que a retração do mercado acionário reduz a competição com as operações de oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) como opção de captação de recursos para as em-presas", ressalta

A GP Investments, uma das líderes no merca-do de private equity na América Latina, também concluiu a captação de seu quinto fundo CPCP5, de cerca de US$ 884 milhões. Desde sua constituição, em 1993, foram captados mais de US$ 4 bilhões, e adquiridas 47 companhias em 14 setores diferentes da economia. A Pátria Investimentos também lançou neste ano seu terceiro fundo, no valor de US$ 700 milhões, sendo US$ 500 milhões captados com investidores estrangeiros, US$ 125 milhões com investidores locais e US$ 75 milhões de recursos próprios. "O fundo terá como foco os

setores de serviço, saúde e educação", afirma Alexandre Saigh, sócio-responsável pela área de private equity do Pátria Investimentos.

A gestora realizou o primeiro investimento do novo fundo em uma empresa de rastreamento de carga, Zatix, somando seis empresas no portfólio, entre elas: Anhangüera Educacional, Diagnósticos da América (Dasa), Tivit, Ersa e Casa do Pão de Queijo. "Estamos em fase de expansão das empresas em carteira e avaliamos que novas saídas dessas companhias via abertura de capital devem ser postergadas nesse mo-mento", diz Saigh.

Outra grande gestora brasileira, a Gávea Investimentos, fundada em 2003 pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, também lançou seu terceiro fundo neste ano, com capital comprometido de US$ 1,2 bilhão. Desde a criação dessa área de negócios, em julho de 2006, o grupo já realizou investimentos em mais de 20 empresas privadas no Brasil.

A maior parte dos gestores (92%) está em fase de investimento em 2008, já que captou recursos no ano passado, sendo beneficiada pela alta liquidez no mercado internacional verificada nos últimos tempos. Com a contração das linhas de crédito e retração do mercado de capitais, os fundos de private equity se apresentam como uma alternativa de investimento de longo prazo para a captação de recursos para as empresas.

De acordo com estudo da consultoria PricewaterhouseCoopers, neste ano até setembro, esses fundos responderam por 18% do volume total de transações de fusões e aquisições no Brasil, contra uma participação de 15% registrado no ano passado. Só nos últimos três meses foram anunciadas grandes operações envolvendo fundos como a compra da rede de varejo Quero-Quero pela gestora Advent International, controladora também da holding International Meal Company (IMC), que adquiriu a cadeia de restaurantes Frango Assado.

Outra gestora que aproveitou para ir às compras foi a Gávea Investimentos. Nos últimos dois meses, a gestora anunciou a compra de participação na rede de farmácias Droga Raia, no grupo RBS Comunicações, além de anunciar compra de ações da Cosan Limited.

Com a queda do preço dos ativos em bolsa, deve crescer a entrada dos fundos em empresas de capital aberto, modalidade de investimento conhecido como Pipe (do inglês Private Investment in Public Equity). Além do Gávea Investi-mentos, a GP Investments também tem investido em empresas de capital aberto, adquirindo participação na Estácio Participações. Já a construtora e incorporadora MRV Engenharia recebeu, em janeiro deste ano, a injeção de recursos do fundo britânico Autonomy.

Para o diretor do GVcepe e um dos coordenadores do estudo, Claúdio Furtado, a queda do preço das ações e a conseqüente capitalização menor das empresas poderão despertar interesse

Queda de ativos na bolsa amplia acesso de fundos a empresas de capital aberto

dos fundos para investir em empresas de capital aberto. Segundo o sócio de fusões e aquisições da PricewaterhouseCoopers, Alexandre Pierantoni, a indústria de private equity deve continuar aquecida, porém os investidores devem ser mais seletivos na escolha dos investimentos. "A turbulência tornou mais difícil a avaliação do valor das empresas."

A maior parte dos fundos de private equity tem foco multi-setorial, enquanto os fundos de venture capital se concentram mais nos segmentos de informática e eletrônica, telecomunicações, biotecnologia e indústrias diversas. Nos segmento de private equity, os setores de agronegócios e de energia também ganham muita atenção, enquanto os fundos mezaninos preferem investir mais nas áreas de logística e distribuição, transporte e saneamento.

0 Brasil tem despertado cada vez mais o interesse dos investidores estrangeiros, que começam a retornar com mais força ao país a partir de 2004, depois de um período de desaquecimento do mercado, do estouro da bolha das empresas pontocom, do surgimento de oportunidades nos Estados Uni-dos e de fatores internos, como a desvalorização do real e a incerteza em relação às eleições presidenciais de 2002. Dos US$ 26,65 bilhões de capital com-prometido para investimentos em private equity e venture capital, cerca de 58% vêm de investidores estrangeiros. Neste ano, até o primeiro semestre, os estrangeiros já captaram para o Brasil cerca de US$ r,rr bilhão, o correspondente a 43% dos recursos levantados neste ano. "A primeira entrada dos investidores estrangeiros aconteceu em 1997, motivada pelo movimento das privatizações e estabilização da economia brasileira. Porém, após um período de uma freada de recursos para países emergentes, entre 2001 e 2003, os estrangeiros

começam a retornar em 2004, com o crescimento sustentável da economia e o aquecimento do mercado de capitais", afirma Furtado.

Nos últimos anos, grandes participantes do mercado internacional de private equity estudam a entrada no Brasil, como o CVC Capital Partners, que faz parte do Citigroup Investimentos Alternativos, GE Capital, One Equity Partners, fundo de private equity do JP Morgan, Cerberus, o europeu Permira, além do Morgan Stanley, que tem analisado investimentos no setor imobiliário no Brasil. "Apesar da crise, continuamos verificando o interesse de grandes gestores estrangeiros para operar no Brasil, inclusive daqueles que estiveram presente no país na década de 90 e agora estão voltando", afirma Carlos Asciutti, sócio da Ernst & Young.

Um dos maiores gestores do mercado internacional, o Carlyle Group, com mais de US$ 81 bilhões sob gestão, também pretende ampliar sua atuação no Brasil, onde está presente desde 2007. Segundo o diretor da Carlyle no Brasil, Eduardo Machado, o grupo levantou um fundo de US$ 500 milhões para investir na área imobiliária da América Latina, dos quais par-te já foi alocada na aquisição da loteadora Scopel e em um projeto de escritórios comerciais no Rio de janeiro, além de dois investimentos no México. "A maior parte desses recursos deve ser alocada no Brasil, nos setores de imóveis residenciais voltados para a classe média e em projetos de centros comerciais nos Estados de São Paulo e Rio de janeiro", afirma Machado.

A Carlyle também contratou o ex-diretor da gestora AIG Capital Investments no Brasil Fernando Borges para estruturar uma equipe para atuar na compra de companhias de capital fechado. Machado desta-ca, no entanto, que, com a queda do preço dos ativos devido à crise no mercado imobiliário dos Estados Unidos, parte dos recursos dos investidores está sendo direcionada para essa região. "Porém, países emergentes como o Brasil devem apresentar um crescimento econômico superior ao das economias desenvolvidas no próximo ano", ressalta.

Segundo o estudo global sobre private equity "Buscando diferenciação num contexto de mu-danças", realizado pela PricewaterhouseCoopers, em 2007, o setor de private equity investiu globalmente US$ 297 bilhões, representando crescimento de 26% em relação a 2006. Com a desaceleração das economias desenvolvidas com a crise internacional, os mercados emergentes devem se consolidar como interessantes oportunidades de investimento.

A América Latina tem ganhado destaque, com aumento de 74% dos investimentos, que somaram US$ 35,6 bilhões. A captação dos fundos dedicados à região cresceu 54%, atingindo US$ 19 bilhões, a maior parte destinada para o México e Brasil.

De acordo com o sócio da PricewaterhouseCoopers Carlos Mendonça, o crescimento do grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) deve continuar aquecido, porém abaixo da média registrado no ano anterior. A região da Ásia Pacífico continua liderando os investimentos dentro do grupo, registrando um aumento de 36% (US$ 86,3 bilhões em 2007), somando cerca de US$ 51,6 bilhões em novas captações. Só a Índia recebeu aporte de US$ 17,5 bilhões, crescimento de 136°/o em relação a 2006. A China registrou investimentos de US$ 10,62 bilhões dos fundos, aumento de 3% contra o registra-do em 2006. O mercado chinês lidera a captação de novos recursos, que somaram US$ 10 bilhões em 2007, contra US$ 5,94 bilhões destinados para a índia. Apesar de ter iniciado as atividades na década de 8o, foi a partir de 2004 que a indústria de private equity ganhou força, vendo surgir novos gestores nacionais e estrangeiros, que hoje contam com 520 empresas em portfólio. A

entrada de um fundo de private equity ou de venture capital numa empresa não representa apenas a chegada de um investidor, mas de um sócio que deverá assumir uma posição mais ativa na gestão da companhia. Em geral, os fundos firmam um acordo de acionistas com os controladores e buscam aprimorar os fundamentos de governança corporativa das empresas, bem como suas práticas de gestão, buscando geração de valor para os acionistas.

De acordo com Pierantoni, o tempo de permanência dos fundos nas empresas é de três a sete anos, porém ele destaca que a desaceleração do crescimento econômico deve afetar a rentabilidade das companhias, elevando esse prazo para cinco a oito anos. "Com a retração do mercado de capitais, a saída dos investimentos via bolsa deve ficar mais difícil, devendo focar na venda para investidores estratégicos."

A maior parte dos fundos (66,1%) deu início às atividades no período anterior a 2005, e nos últimos quatro anos começaram a realizar os desinvestimentos. Com o aquecimento do mercado acionário, boa parte das saídas dos fundos das empresas foi realizada via IPO, que somaram 34 operações com participação de fundos entre 2004 e 2008, de um total de 109 empresas que abriram capital no período. Grandes empresas que hoje são listadas em bolsa, como Gafisa, ALL, Lupatech, Dufry, Gol, Diagnósticos da América, Ambev, Submarino, UOL e Totvs, já receberam recursos dos fundos, que colaboram para o crescimento e consolidação

dessas companhias no mercado.

No entanto, com a retração do mercado de capitais, novas portas de saída devem ser criadas pelos investidores. Um desses mecanismos é a venda da participação na empresa para fundos que atuam no mercado secundário, como o Paul Capital Partners, que atua na compra de cotas dos fundos de private equity buscando trazer maior liquidez para esse setor.

Com retornos entre 30% e 40% superiores à média da bolsa norte-americana, segundo Asciutti, da Ernst & Young, essa modalidade de investimentos tem despertado o interesse também de investidores de alta renda. Os bancos têm busca-do parceria com gestoras para oferecer esses produtos para seus clientes. O Unibanco lançou um fundo em parceria com o Pátria Investimentos, com aplicação mínima de R$ zoo mil para clientes com patrimônio acima de R$ 5 milhões. O Itaú também lançou um fundo mezanino, que agrega uma estrutura de dívida e participação no capital, em parceria com a Neo Investimentos, com aplicação mínima a partir de R$ 1 milhão.

Outro mercado que tem crescido no Brasil é o dos investidores-anjo, associações que reúnem um grupo de gestores dispostos a investir em empresas de capital nascente ou mesmo apoiar novos projetos de empreendedores. Hoje, esse nicho é formado por quatro associações: Bahia Angels, São Paulo Angels, Floripa Angels e Gávea Angels, que contam com US$ 9 milhões de capital comprometido.

Alavanca do empreendedorismo

A indústria de venture capital tem sido também um importante incentivador do empreendedorismo e inova ção no Brasil e conta com apoio de órgãos governamentais, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A Finep, através do programa Inovar Semente, em parceria com o Fundo Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Fumin/BID), apóia fundos de capital semente, que investem em pequenas empresas inovadoras. No ano passado, o BNDES lançou o programa Criatec, voltado para a participação em fundo de investimento com a finalidade de capitalizar as micro e pequenas empresas inovadoras de capital semente, que contava com patrimônio inicial de R$ 8o milhões. Além disso, o banco criou o Programa de Fundos de Investimento, que tem como objetivo selecionar participação em fundos de private equity, por meio da BNDESPar, com orçamento inicial de R$ 1,5 bilhão.


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