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Risco operacional eleva procura por "plano B"


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Fonte: Gazeta Mercantil

O servidor parou. A produção foi afetada porque um fornecedor essencial está enfrentado dificuldades. Um desastre natural interrompeu o fluxo de mercadorias. O principal executivo aceitou convite para trabalhar na concorrência. Nem todas as empresas têm à mão um plano B eficaz para minimizar eventuais efeitos negativos causados por essas situações e manter as atividades a pleno vapor.

A partir do reconhecimento dessa carência, a corretora de seguros e resseguros e gerenciadora de riscos Marsh montou uma equipe especializada no serviço de plano de continuidade de negócios (BCM, do inglês Business Continuity Management) no fim de 2006. Dois anos mais tarde, a multinacional ampliou o time de consultores para atender a demanda crescente em todas as regiões do País e projeta para este ano crescimento superior a 350% na venda de "planos B", que contemplam análises de risco e identificação de impactos, programas de recuperação de desastres e de gerenciamento de crise e treinamento. Banco Real, Unibanco, Yamanha, Sadia, Nextel, Funcef, Postalis, Caterpillar, Volvo e Kraft são os principais clientes.

O vice-presidente para a América Latina da área de BCM da Marsh, Roberto Zegarra, foi deslocado de Washington para garantir que a estimativa de expansão seja atingida. Ele explica que a resolução 3.380, emitida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho de 2006, fomenta a demanda. A norma obriga instituições financeiras a colocar em prática medidas de gestão do risco operacional, caracterizado pela "possibilidade de ocorrência de perdas resultantes de falha, deficiência ou inadequação de processos internos, pessoas, sistemas ou de eventos externos", conforme o segundo artigo da regra.

"De longe o nosso maior cliente é a indústria financeira - bancos, fundos de pensão, processadores de cartões de crédito -, mas empresas do setor produtivo também demonstram interesse. O que acontece quando um fornecedor para ou quebra? A GM vai deixar de fabricar carros se a fábrica de seu fornecedor de baterias pegou fogo? Neste caso, a cadeia de valores é estratégica e está contemplada no plano de continuidade de negócios", comenta Zegarra. O executivo diz ainda que o aumento da procura por soluções de BCM está relacionada à exigência de investidores. "Da mesma forma que uma empresa exige de seus fornecedores, acionistas estão começando a exigir essa proteção por parte das empresas, buscam investimentos mais seguros."

O Postalis, fundo de pensão dos Correios, que administra R$ 4,5 bilhões, adotou o BCM no último trimestre do ano passado. De acordo com Sinecio Jorge Greve, diretor administrativo da entidade, a opção tem objetivo inicial de cobrir riscos da área de tecnologia. "Fizemos uma licitação e escolhemos a Marsh pela qualificação técnica. Estamos no primeiro módulo e pretendemos dar continuidade em outros processos da entidade", conta. O responsável da Marsh pela conta, Silvio Pezzo, diz que vai recomendar a contratação de uma segunda empresa responsável pela transmissão de dados.

O Brasil passou a ser o principal mercado da Marsh na América Latina, superando a Colômbia, onde os planos de continuidade de negócios focavam riscos de terremotos e instabilidade política. Na onda do crescimento econômico, as empresas brasileiras buscam fazer frente a percalços em suas operações, como conta o australiano Stephen Ellis, responsável pela consultoria de risco da multinacional. "O que mais preocupa são os riscos operacionais. As empresas buscam estratégias contra a eventual parada da produção, de servidores, o sistema de comunicação fora do ar ou falha de fornecedores."

BCM x seguro

Os principais componentes de um processo de BCM são gestão de crise, que envolve estratégia de comunicação; resposta ao incidente, que prevê ações para minimizar danos a pessoas, meio ambiente e ao patrimônio da empresa; e proteção das finanças e da participação no mercado. Segundo Roberto Zegarra, esses pontos diferenciam o BCM de uma apólice de seguro. "Uma fábrica que pega fogo será indenizada se contar com uma apólice de seguro. Mas se ela demorar um ano para voltar a produzir, o seguro não garantirá a manutenção de seus clientes ou a recuperação de sua participação de mercado", explica.

Zegarra pondera que não adianta formular um plano para duplicar uma operação afetada. "O foco é o core business: melhorar processos e não duplicá-los. A idéia é enxergar o que é crítico para tornar a empresa mais resiliente", acrescenta, mencionando o Princípio de Pareto, tese do economista italiano Alfredo Pareto que, ao analisar a distribuição da riqueza no mundo, constatou que para a grande parte dos fenômenos observados, 80% das consequências advém de 20% das causas.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Luciano Máximo)


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