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Salva pelo governo, AIG luta para sobreviver


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Fonte: Gazeta Mercantil

Há seis meses, no mesmo dia da derrocada do Lehman Brothers, a American International Group (AIG), então maior seguradora dos Estados Unidos e segunda no ranking global, passou por um triz da falência e entrou para a história como mais uma protagonista da explosão da crise financeira internacional. Também atolada até o pescoço em perdas bilionárias com títulos subprime, no fatídico 15 de setembro de 2008 a empresa admitiu que, sem a mão do Estado, a quebra viria em questão de tempo.

Difícil imaginar o estertor de operações em 130 países, apólices de mais de 100 mil empresas e seguros (annuities) que funcionam, basicamente, como poupança para cerca de 100 milhões de pessoas no mundo todo. O governo norte-americano não quis sequer vislumbrar a hipótese. Preteriu o Lehman. No mesmo dia 15, o governador de Nova York, David Paterson, autorizou empréstimo de US$ 20 bilhões para a AIG levantar capital e estancar a queda da classificação de crédito. Naquela nada distante segunda-feira negra, as ações da gigante afundaram 60%.

Da noite para o dia, o setor de seguros internacional passou a navegar em águas turvas. O presidente da, à época, Unibanco AIG Seguros e Previdência, Zeca Rudge, correu para tranquilizar o mercado nacional e admitiu que poderia comprar a parcela da seguradora norte-americana na sociedade - o negócio foi consumado dois meses depois, por mais de US$ 800 milhões.

Em outubro, o assunto AIG dominou o encontro anual da Associação Internacional de Supervisores de Seguros (IAIS, da sigla em inglês), realizado em Budapeste, na Hungria. Um executivo de uma grande seguradora brasileira, presente ao evento, relatou momentos de tensão. "O representante da Comissão Nacional de Seguros da Nigéria (Fola Daniel), com o dedo em riste, acusou de omissão o colega (Eric Dinallo) regulador do mercado de Nova York, onde fica a sede da AIG (nos EUA, os órgãos de supervisão atuam em esfera estadual)", lembra a fonte, solicitando sigilo.

À época, outra participante, Maria Elena Bidino, diretora de assuntos internacionais da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados (Fenaseg), contou que a crise da AIG motivou discussões para globalizar a fiscalização no setor. "O desafio é uma regulamentação internacional. Como regulamentar a atividade de empresas que operam em vários países e atuam como conglomerado financeiro? Os reguladores estão estudando a criação de melhores canais de comunicação."

Nova AIG

À medida em que as perdas da AIG se revelaram mais desastrosas, o pacote de socorro aumentou dos iniciais US$ 20 bilhões para US$ 150 bilhões, entre injeção de capital, empréstimos e aquisição de ativos podres pelo Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) e pelo Tesouro norte-americano. Analistas ainda têm dúvida se o montante será suficiente para levantar a gigante do nocaute. No último trimestre de 2008, a seguradora reportou o prejuízo histórico de US$ 61,7 bilhões.

Como principal acionista, o governo facilitou as condições de pagamento do pacote, oferecendo fôlego extra para a AIG enxugar seu conglomerado financeiro e reinventar seu trabalho como mera seguradora de imóveis e sinistros - com novo nome, novas caras no conselho e talvez uma oferta pública inicial de ações no futuro. A divisão mundial de seguro de vida e as operações de seguros da Ásia também estão sendo retiradas do bloco de leilões por conta de propostas muito baixas. Foi anunciado que a empresa formará uma nova holding - AIU Holdings, nome emprestado de um braço já existente (American International Underwriters).

No País, executivos já apresentam cartões de visita com a inscrição AIU Brasil, mas as operações estão em fase de estruturação. A nova AIG vai abrigar os mais de 44 mil funcionários e clientes de 130 países dos negócios domésticos e internacionais de seguros gerais.

O objetivo da medida é libertar a nova seguradora da esfera da AIG e das suas muitas complicações. "A estrutura de conglomerado é complexa, pesada e opaca demais", disse Edward Liddy, principal executivo da seguradora, instituído pelo governo. Liddy, que acredita que a fragmentação da AIG em pedaços menores facilitará as vendas e aumentará sua lucratividade, disse também que a holding reformulada de seguros poderá realizar um IPO no prazo de nove meses a um ano.

As outras unidades da AIG têm um futuro mais sombrio. A divisão global de seguros de vida e as operações de seguros da Ásia estão sendo integradas a duas entidades dedicadas (special-purpose entities), focadas em dar lucro para honrar os empréstimos do Fed. Existe também a possibilidade de serem vendidas, embora sem prazo definido, para restituir parte dos cerca de US$ 38 bilhões já sacados do total de US$ 60 bilhões prometidos pelo Fed.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Luciano Máximo - Com The New York Times)


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