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Swiss Re identifica demanda maior por prática de análise de cenários


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Fonte: Gazeta Mercantil | Finanças e Mercados | SP

Em meio a enormes perdas com catástrofes naturais, queda das receitas financeiras e rebaixamento da classificação de risco, empresas de seguro e resseguro em todo o mundo estão se voltando cada vez mais a práticas de análise de cenários para atravessar as incertezas da crise financeira internacional, com o objetivo de atingir a excelência em avaliação de risco, planejamento estratégico, underwritng (subscrição de riscos) e gestão de capital. Essa é uma das principais conclusões do estudo "Sigma - Análises de cenários em seguros", elaborado pela área de consultoria e pesquisa da Swiss Re, a maior resseguradora global.

De seu privilegiado posto de observação em Nova York, o economista-chefe para a América do Norte da organização, Kurt Karl, um dos autores do trabalho, conta as razões do interesse nesse tipo de ferramenta. "O que estamos vendo é a demanda por análises de cenário subindo, pressionada pelas agências de rating e autoridades regulatórias. Além disso, a prática é um benefício para o resultado da empresa, pois ajuda a evitar erros que podem causar perda de ganhos e também oferece encaminhamentos para reconhecer boas oportunidades de negócios."

O especialista em previsões sobre a economia norte-americana conta ainda que a deterioração do sistema financeiro está forçando os resseguradores a concentrar esforços em modelagens de cenários no campo da gestão de recursos. "Em tempos de turbulência dos mercados, há um foco bastante expressivo em investimentos no chamado choque de ativos, que é a tentativa de elevar ganhos com o choque de preços, tendo em vista os valores atuais das ações", assinala Karl, em entrevista por telefone, com exclusividade à Gazeta Mercantil.

Ele ressalva que, pelo fato de o retorno das aplicações financeiras estar menor atualmente, as companhias estarão mais focadas no "core business" do resseguro. "É um tempo de incerteza. Empresas do ramo de vida vão focar suas previsões em riscos epidêmicos, assim como as de ramos elementares (seguros gerais) vão se esforçar para antever catástrofes naturais, adicionado a tudo isso mais uma onda da crise financeira. As análises de cenários vão focar a busca por liquidez nos ativos e por padrões de aceitação de risco altamente qualificados, que atendam as obrigações do mercado e da companhia durante um período de estresse." Segundo Karl, somado ao escrutínio do underwriting, as taxas de resseguro estão se elevando. "É uma forma de as companhias recuperarem capital."

Construindo cenários

Conforme o estudo da Swiss Re, a prática de análise de cenários no mercado segurador começou em 1988 pela seguradora austríaca Erste Allgemeine Versicherung, considerando riscos políticos, econômicos, demográficos e mudanças estruturais e tecnológicas no próprio setor. O principal resultado obtido foi a antecipação da queda do Muro de Berlim em 1989. A empresa desenvolveu estratégias e se aproveitou para lucrar com a abertura do mercado do Leste Europeu. Os principais modelos de análise postos em prática hoje são: determinista, estocástico (padrão estatístico que identifica dados a partir de eventos aleatórios), histórico e hipotético.

No caso de uma resseguradora que opera no ramo vida, o "Sigma" exemplifica, no tópico "Construindo cenários", que é possível desenhar um ambiente para antever, com base em dados macroeconômicos e setoriais, riscos de epidemia global. A situação repercutiria em um aumento do índice de mortalidade e do atendimento hospitalar, fatores que incrementam o nível de despesas com indenizações e prestação de serviços.

Após detalhar os sete passos para identificar uma eventual ocorrência (da definição do risco a ser trabalhado à definição da metodologia de análise, passando pela formação de uma equipe especializada), o método indica uma série de estratégias de mitigação do risco inicialmente identificado. "Se a companhia descobre que tem uma exposição prejudicial ao risco traçado, ela pode transferir parte do risco (com um resseguro, por exemplo) ou fazer um hedge de sua carteira. Tratando-se de um grande (res)segurador, pode ser considerada a emissão de títulos para captação de recursos ou ainda reduzir o nível de underwriting ou introduzir cláusulas restritivas nas apólices", explica o estudo.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Luciano Máximo)


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