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Devolva nosso dinheiro


Fonte: ISTOÉ Dinheiro - São Paulo,SP,Brazil

A quebrada AIG recebe mais de US$ 170 milhões do Tesouro dos EUA, distribui US$ 163 milhões em bônus aos seus funcionários e provoca uma série de cobranças.

O PROTESTO ESTAVA ESPALHADO EM VÁRIOS cartazes que os cidadãos americanos apontavam na direção de Edward Liddy, presidente-executivo da AIG. "Devolva nosso dinheiro" eram as três palavras que resumiam aquilo que todos os americanos gostariam de expressar na quarta-feira 18, quando os executivos da seguradora mais problemática nessa crise financeira mundial foram depor no Congresso dos Estados Unidos. Se há duas semanas a preocupação girava em torno da saúde financeira do grupo, que teve perda recorde de US$ 99,3 milhões no ano passado e precisou se socorrer com o dinheiro público, tudo mudou de figura na semana passada. O procurador de Nova York Andrew Cuomo encaminhou um relatório para a Comissão de Serviços Financeiros da Câmara informando que a AIG distribuiu um bônus de US$ 163 milhões para 418 funcionários, sendo que 298 ganharam mais de US$ 100 mil. O maior prêmio pago foi de US$ 6,4 milhões. Outros seis empregados receberam mais de US$ 4 milhões, 15 embolsaram mais de US$ 2 milhões e 51 foram recompensados com mais de US$ 1 milhão.

Em um momento tão delicado da história americana, a AIG continua a dar vexame. Recebeu mais de US$ 170 milhões de ajuda do Tesouro americano e levou um pito de Ben Bernanke, que comparou a seguradora a arriscados fundos de investimento. O governo, que assumiu a conta do salvamento, ganhou 79,9% de ações como se fosse um abacaxi. E, após saber da distribuição dos bônus, o presidente Barack Obama indagou: "Como eles vão justificar esse assalto aos contribuintes que estão mantendo a empresa flutuando?" Embora Liddy tenha afirmado que ficou desgostoso em realizar os pagamentos, uma pista dada por ele pode ser a chave para entender por que esse caminho não tinha volta. Tudo indica que a premiação para os funcionários estava protegida por um contrato. "Se estava acertado em contrato, tem que cumprir", diz Herbert Steinberg, sócio da Mesa Corporate Governance, consultoria especializada em governança corporativa. Porém, qualquer outra hipótese de acerto entre a seguradora e seus funcionários poderia ser revertida. "Um incentivo combinado só se sustenta até uma crise ou uma catástrofe acontecer", afirma Steinberg.

A tentativa agora é contar com a colaboração dos premiados. O pedido, feito pelo presidente-executivo no Congresso, é que aqueles que tenham recebido mais de US$ 100 mil devolvam, pelo menos, metade desse bônus. A oferta parece insuficiente para agradar a todos. O secretário do Tesouro, Tim Geithner, anunciou que a seguradora será liquidada de forma ordenada e seu braço financeiro, que provocou as perdas no mercado de derivativos, deixará de existir em quatro anos. Nessa história toda, é curioso notar que o próprio Liddy aceitou, em novembro, um salário de US$ 1 sem direito a bônus pela situação da companhia. Caso idêntico ao de Vikran Pandit, presidente do Citibank, que sugeriu ao conselho do banco o mesmo simbólico pagamento.

US$ 100mil foi o menor prêmio recebido por 298 funcionários da AIG

Os bônus, em geral, são cobertos de polêmicas. No começo do ano passado, a matriz do UBS Pactual, na Suíça, havia amargado um tremendo prejuízo e cancelou o pagamento de prêmios. Imediatamente a notícia bateu no Brasil, que havia tido um dos melhores desempenhos e minimizou os prejuízos globais. A boa equipe estava pagando pelo todo. "Está sendo implantado na maior parte das empresas: se a companhia não atingir as metas, ninguém ganha nada", afirma Steinberg. Há, no entanto, exceções. Companhias globais tendem a dividir o tamanho de seus prêmios em escala global e regional. Se o mundo vai bem, a torneira do dinheiro jorra mais. Se apenas uma filial se destacou, o volume de bonificação é menor. Um caso conhecido é o do Santander, que reconhece o desempenho individual de seus bancos nos diferentes países.


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