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Fonte: Valor Econômico | Finanças | SP
O socorro do governo dos Estados Unidos à seguradora American International Group Inc., concebido para ajudar a estabilizar o mercado financeiro, acabou atrapalhando outro canto do mundo empresarial.
Os concorrentes da AIG alegam que a linha de crédito concedida pelo governo está desnivelando o setor de seguros para empresas. E estão pressionando as autoridades americanas para que corrijam isso.
Numa reunião a 4 de março em Washington, alguns dos maiores rivais da AIG reclamaram diretamente a Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, o banco central americano, e principal fiscalizador da AIG. Eles pediram urgência na adoção de medidas para evitar que a AIG use os recursos governamentais para levar vantagem indevida em relação aos concorrentes, especialmente pela via de corte de preços. Bernanke disse que analisaria as queixas, segundo pessoas a par da reunião.
Desde que o governo entrou em cena, há seis meses, algumas vezes a AIG cortou o preço de seus seguros - em mais de 30% em alguns casos - para afastar os concorrentes, conquistando ou mantendo contratos, segundo documentos públicos, corretores de seguros, executivos e outros integrantes do setor. Essa vantagem permitiu à AIG segurar clientes que vão do Comitê Olímpico dos EUA a um um asilo em Illinois.
Autoridades estaduais de seguros de Nova York e da Pensilvânia estão investigando. O Escritório de Prestação de Contas do Governo está analisando o assunto e divulgou um relatório na audiência pública sobre a ajuda à AIG do subcomitê da Câmara dos Deputados dos EUA que trata da área de seguros. O relatório afirmou que fiscalizadores, corretores e compradores dizem que a AIG "pode estar cortando os preços um pouco mais agressivamente que no passado, para reter clientes", mas o preço não parece "inadequado". O escritório informou também que ainda não tinha "chegado a nenhuma conclusão definitiva".
Quando o Fed agiu para salvar a AIG, em setembro, o foco principal foi um pequeno canto do crescente império em que a empresa tinha se transformado: evitar que as apostas feitas nas hipotecas de alto risco drenassem os recursos dela. O socorro governamental incluiu pagamentos de dezenas de bilhões de dólares a contrapartes da AIG, como grandes bancos nos EUA e Europa. Para piorar, a empresa e o governo receberam duras críticas semana passada depois que a AIG pagou bônus de retenção para empregados da divisão que deixou a seguradora de joelhos.
Ajudar a combalida seguradora a se desvencilhar de suas exóticas apostas também politizou o setor de seguros. Ao socorrer a AIG, o governo transformou o ambiente competitivo do setor, neutralizando os esforços das rivais da AIG de conseguir seus clientes. E o presidente do Fed e outras autoridades acabaram sendo sugadas para o cerne dessa polêmica.
O Fed tem interesse em que a AIG continue competitiva para que possa pagar o empréstimo governamental. Mas, se a AIG cobrar muito pouco por apólices para evitar perder clientes, isso pode resultar em grandes perdas futuras com coberturas, o que talvez acabe sendo uma ruim para o governo.
A AIG alega não estar usando o dinheiro recebido do governo para aumentar sua fatia de mercado e que não está fixando preços de forma inadequada. John Doyle, um executivo de alto escalão das operações de seguro comercial, atribui parte das queixas à "frustração de concorrentes que em meados de setembro achavam que íamos desaparecer".
As reclamações dos rivais da AIG somam-se ao enorme ressentimento criado pela decisão do governo de intervir no setor privado em nome do interesse público. Como os bons pagadores de hipotecas descontentes com a assistência do governo aos mutuários inadimplentes, alguns executivos do setor de seguros que administraram seus negócios com prudência se ressentem de não ter conseguido nenhuma vantagem competitiva com os erros da AIG.
"A AIG continua excessivamente agressiva em preços e termos de contratos", disse no começo de março o diretor-presidente do Liberty Mutual Group Inc., Ted Kelly. "Mas, claro, se você recebeu um apoio implícito do governo, pode fazer esse tipo de coisa."
Em comunicado, a AIG declarou que as alegações "simplesmente não são verdadeiras e têm o propósito de aumentar a pressão sobre nossos negócios". A empresa ganhou alguns contrato sem que não apresentava a oferta menor e ressaltou ter perdido outros para concorrentes mais baratos.
A AIG tem conseguido manter muitos clientes e superar a concorrência. Uma fatia importante de seus negócios - seguro patrimonial e contra acidentes - sofreu pequena erosão. Mas o restante de suas operações tem se mantido surpreendentemente bem para uma empresa que caminhava para o colapso. A AIG tinha 6,5% do mercado americano ano passado, segundo a Associação Nacional de Comissões de Seguro. Em 2007, a participação era de 7,3%. Mesmo assim, a AIG continua a ser a segunda maior seguradora no país, e muitas das maiores empresas americanas ainda compram dela seguro patrimonial e de responsabilidade civil.
A AIG tem 116.000 funcionários, 74 milhões de clientes, US$ 860 bilhões em ativos e operações em 130 países.
(Colaboraram Jon Hilsenrath e Serena Ng)
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