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A fila da discórdia


Fonte: CQCS - Rio de Janeiro,RJ,Brazil

Um projeto, já aprovado na Câmara dos Deputados, quer proibir as motos de trafegarem nos corredores ao lado dos carros

Aquela cena comum de motociclistas furando os congestionamentos dos grandes centros e incomodando muita gente está ameaçada de desaparecer. A Comissão de Constituição e Justiça de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou, semana passada, o projeto de Lei 2.650/03, que altera o Código de Trânsito Brasileiro. Tudo para proibir os condutores de motocicletas de trafegar nos corredores entre veículos.

Na prática, isso significa dizer que donos de motos teriam de aguardar na fila, como fazem os carros. O descumprimento da lei pode render multa. Para começar a vigorar, a proposta ainda precisa ser aprovada pelo Senado, mas nem chegou lá e ela vem causando polêmica.

A ideia de botar os donos de motos no mesmo lugar dos carros não é nova. Retoma a redação original da criação do Código de Trânsito Brasileiro sobre motocicletas, mas, na época, o trecho foi vetado pelo Executivo sob a alegação de que a prática é largamente utilizada em todo o mundo.

De autoria do deputado Marcelo Guimarães Filho (PFL-BA), o projeto determina que o motociclista deverá observar a distância lateral de 1,5 metro dos carros em circulação. A medida inviabiliza o costume de motociclistas de seguir pelos corredores formados entre carros no caso de congestionamentos ou em semáforos, como mostra a foto acima.

Com a proibição, os defensores da proposta acreditam ser possível reduzir a quantidade de acidentes envolvendo motocicletas, preservando, assim, a vida dos condutores, já que manobras como as realizadas atualmente no trânsito passarão a ser infrações. Em todo País, a notícia vem gerando discussão. Muita gente já se manifestou contra. A grande verdade é que quem anda de moto não acredita que a lei vá colar.

Nos grandes centros urbanos, a prática de trafegar pelos corredores é quase institucionalizada. "Não acredito que o negócio vá para frente. Já imaginou as motos ocupando o mesmo lugar dos carros nas ruas? Seria um caos. No interior há uma série de problemas de gente andando sem capacete e ninguém toma providência. E nas grandes cidades, quem vai fiscalizar? Temos um código de trânsito muito rigoroso. O ideal seria que as autoridades fizessem ele ser cumprindo ao invés de criar novas leis", critica Roberto Maia, motociclista há 20 anos e editor do site revistamotoclubes, uma das principais referências para donos de motos no Nordeste.

Carlos Valle, sócio de uma revenda de motos Sundown no Recife, compartilha de opinião semelhante. Para ele, caso a proposta venha a ser aprovada, inviabilizará completamente a função dos profissionais de entrega.

Segundo Carlos Valle, as motos vão perder sua mobilidade e todos serão prejudicados. É preciso deixar claro que nem todos os problemas do trânsito não de responsabilidade dos donos de motos. O que falta é investimento em programas de educação no trânsito, diz ele. "Não podemos aceitar qualquer ajuste impensado sob pena de piorarmos todos os índices e não resolvermos nada. Se olharmos com atenção a qualidade do treinamento do exame para a concessão da CNH, os programas de reciclagem e fóruns permanentes veremos com facilidade o descaso que foi tratado o assunto".

De acordo com ele, o Seguro DPVAT, tão criticado, destina ao Denatran todos os anos, uma verdadeira fortuna para ser aplicada em campanhas educativas, e até hoje nada foi gasto. "É um absurdo, pois só no ano passado foram destinados R$ 186 milhões para este fim", denuncia Carlos Valle, que também preside o Sindicato dos Corretores de Pernambuco e ocupa a vice-presidência da Federação Nacional de Corretores e Empresas Corretoras de Seguros (Fenacor).


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