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Investidor opta por caminho duvidoso na previdência


Fonte: Agencia Estado - Sao Paulo,SP,Brazil

Receoso após os solavancos dos mercados no último quadrimestre de 2008, o investidor de previdência privada tem escolhido, neste início de ano, a opção mais conservadora. Nos primeiros cinco meses de 2009, os fundos de previdência que investem os recursos apenas em aplicações de renda fixa registraram depósitos muito maiores do que tiveram nos mesmos meses do ano passado. O investidor ignora um fator importante que precisa, cada vez mais, ser adicionado aos cálculos de quem poupa para a aposentadoria: a tendência de queda dos juros brasileiros.

Atualmente em 10,25% ao ano, a Selic (taxa básica da economia brasileira) se encontra no patamar mais baixo da história e promete cair ainda mais. Os economistas acreditam que a taxa termine em 9% no final de 2009. Há apenas dois anos, os juros estavam em 12,50% e há quatro, em 19,75%. Isso faz uma enorme diferença no planejamento da aposentadoria.

Para ter uma renda mensal de R$ 3 mil a partir dos 60 anos, um jovem de 30 anos que conseguisse uma aplicação com rentabilidade líquida de 10% ao ano, precisaria poupar R$ 408,34 ao mês, de acordo com simulação elaborada pela SulAmérica. Mas se a rentabilidade líquida fosse de 6% ao ano, bem mais realista, a economia mensal precisa subir para R$ 867,05.

"O pessoal está cauteloso. Há um processo de realocação de quem estava nos planos com renda variável e o dinheiro novo que chega à previdência está indo para a renda fixa", diz o vice-presidente de Vida e Previdência da SulAmérica, Renato Russo. "O investidor não está entendendo ainda o que esperar da Bolsa. Demora para ficar otimista e quando entra geralmente o mercado já subiu." Em maio do ano passado, os fundos de previdência de renda fixa tinham patrimônio de R$ 63 bilhões e agora têm R$ 90,5 bilhões. Já os que incluem ações tinham patrimônio de R$ 22,1 bilhões e hoje têm R$ 19,8 bilhões.

Esses números refletem, em parte, o saldo entre aplicações e resgates já que os investidores depositaram R$ 5,6 bilhões nos fundos de renda fixa entre janeiro e maio (até dia 26), enquanto, no mesmo período do ano passado, os saques tinham prevalecido, com saída de R$ 522,5 milhões. Já os fundos de previdência mais agressivos, que podem incluir ações até o limite de 49% da carteira, andam em baixa. Depois de terem tido captação de R$ 4,3 bilhões nos primeiros cinco meses de 2008, amargam resgates líquidos de R$ 704 milhões no mesmo período deste ano.

"Faz todo o sentido. Durante processos econômicos como o iniciado no ano passado, as pessoas procuram segurança para compromissos de médio e longo prazo. Enquanto não recupera a confiança, o investidor busca o porto seguro da renda fixa", explica o diretor-geral da Bradesco Vida e Previdência, Lúcio Flávio Condurú de Oliveira. Em janeiro de 2008, cerca de 25% do dinheiro dos investidores estava em fundos de previdência com ações e 75%, nos de renda fixa. Atualmente, a relação mudou para 20% e 80%, respectivamente.

Uma dose maior de risco

Para poupanças que se espera usar apenas muitos anos à frente, como é o caso das economias para a aposentadoria, resta uma única saída, além é claro de guardar mais dinheiro no presente: "Quando o investidor pensa no longo prazo, dado o cenário projetado, se não adicionar uma exposição maior ao risco com certeza terá uma rentabilidade muito aquém da gerada por ativos um pouco mais arrojados", afirma o superintendente de Investimentos da Brasilprev, Márcio Barbosa.

A publicitária Priscila Franco Ávila Santos, de 34 anos, ponderou a tendência de queda dos juros, além da chance de ganho no longo prazo nos mercados acionários, quando decidiu colocar suas reservas para a aposentadoria num fundo que pode investir até 49% dos recursos (o limite legal no Brasil) em renda variável. "Achei que valeria mais a pena. É um dinheiro em que não mexo", conta. Ela investe em previdência privada há dez anos e desde o início procurou manter uma parcela do dinheiro em aplicações mais arrojadas. Há um ano, migrou as reservas para um plano que, ao longo do tempo, calibra automaticamente a parcela de ações e a de renda fixa - chamado "ciclo de vida". Como planeja receber a renda somente em 2040, escolheu a opção mais agressiva. E já que o objetivo da economia é bem definido, a reviravolta nos mercados acionários em 2008 não tirou o seu sono. "Se o interesse é de longo prazo, não se desespere."

Não se trata, reforçam os especialistas, de exagerar na dose a qualquer custo. Cada caso é um caso. Quem já está perto de se aposentar deve manter a maior parte das economias em investimentos conservadores. "Eu mesmo, que pretendo receber a renda do meu plano de previdência daqui a seis anos, deixo o dinheiro todo em renda fixa", conta Oliveira, do Bradesco. Mas quem ainda tem tempo pela frente pode agir diferente.

"Quem tem menos de 30% da previdência em ações deve aumentar a exposição. Quem tiver mais que isso e se sentir preocupado, pode reduzir a parcela de ações", recomenda Russo, da SulAmérica.

O brasileiro promete levar ainda um tempo para perceber que, de fato, o País vive um momento novo. "Estamos diante de um cenário econômico nunca vivido. É um cenário em que as pessoas vão ter de procurar diversificar o portfólio de investimentos, principalmente quem está pensando no longo prazo", afirma o diretor-executivo de produtos de previdência e investimentos do Itaú Unibanco Osvaldo do Nascimento.


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