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De volta pra casa


Fonte: Exame - São Paulo,SP,Brazil

Adecisão do paulistano Luís Fabiano dos Santos, de 34 anos, de voltar ao Brasil há quatro meses causou uma certa surpresa em seus colegas de trabalho na Zurich Seguros, multinacional de seguros com sede em Zurique, na Suíça. Luís deixou para trás uma trajetória de sucesso profi ssional na Suíça, construída ao longo de sete anos, que conta com atuações em importantes grupos internacionais de médio e grande porte, como a consultoria Deloitte e a Citrix, de tecnologia. Sem pensar duas vezes, fez as malas e aceitou o convite da Zurich para ocupar o cargo de gerente de projetos na operação brasileira. "Com a idade que tenho e a experiência que adquiri lá fora, estava na hora de dar um passo mais alto", diz. Até então, seu foco se restringia a atividades de compliance (controles internos). Entre os pontos que pesaram na decisão, o executivo considerou a boa fase vivida pela subsidiária aqui. "O Brasil é o mercado menos afetado pela crise e por essa razão se transformou em celeiro de oportunidades", afirma Luís.

Em outubro de 2008, a seguradora adquiriu a Minas Brasil, dobrando seu tamanho no país. Fechou o ano com um lucro líquido de 7,4 milhões de reais e no mês passado anunciou sua entrada na área de resseguros. Apesar de a Suíça ser uma economia sólida, Luís explica que ela não está imune ao tsunami econômico e o desemprego começa a aparecer. Problema que, segundo ele, atinge em cheio os estrangeiros por estarem em situação de desvantagem, já que acabam sendo preteridos pelas empresas em relação aos profissionais locais na hora dos cortes. Diante das incertezas que imperam no mercado externo, sobretudo o americano e o europeu, muitos brasileiros têm optado por regressar ao país na tentativa de fugir da crise. No ano passado, já vieram os executivos demitidos de bancos de investimentos. Agora é a vez de profissionais de diversos setores de multinacionais, mesmo quem ainda não foi afetado pelos cortes.

MERCADOS EM ALTA

Carlos Storniolo, de 44 anos, diretor de competividade da Delphi no Brasil, empresa do setor automotivo, é um exemplo. Há pouco mais de dois anos em uma unidade da companhia nos Estados Unidos, Carlos recusou a proposta de permanecer como funcionário local. "Foi uma ótima experiência, mas percebi que aqui o mercado automobilístico dava sinais de recuperação, ao contrário do que eu via por lá, com a redução pela metade na produção de carros", diz. Quase toda semana, o executivo recebe notícias de um amigo demitido na subsidiária americana. Ele manteve o mesmo patamar salarial. Só o bônus foi por água abaixo.

Nas empresas de recrutamento com sede no Brasil, chovem candidatos recém- chegados do exterior, interessados em disputar vagas abertas. A maior parte, no entanto, continua sendo de executivos que atuam no mercado financeiro. "O Brasil se tornou uma opção interessante, inclusive para os estrangeiros, porque é o mercado que enfrenta menor retração", diz Renato Furtado, diretor-executivo da Russell Reynolds. Ele revela que tem sido assediado por executivos do mundo inteiro, mas em especial dos americanos. "De outubro até o começo do ano, cheguei a receber, em média, três currículos por semana", diz.

Apesar dessa corrida, o consultor alerta para o fato de que não há oportunidades para todos. Ele acredita que com os processos de fusão, como o do Itaú-Unibanco e do Santander-ABN Real, o setor financeiro deve promover ajustes. E há um outro lado. "Alguns bancos aproveitam o novo cenário para contratar gente altamente qualificada por salários mais baixos", diz Renato. Mas ele alerta que as vagas ainda são insuficientes papara o número de profissionais disponíveis. Na Hays, um termômetro desse movimento foi observado quando a consultoria abriu um processo seletivo na área de segurança e meio ambiente. "Em apenas dois dias recebemos mais de 280 currículos e 20% eram de brasileiros interessados em voltar", diz Gustavo Costa, diretor da Hays. Embora haja uma debandada no caminho de volta e uma fila de espera ansiosa por encontrar abrigo, é preciso ter cautela na hora da decisão. Negociar o novo emprego ou a recolocação na mesma empresa no país está mais duro. A vantagem: todo mundo fala a mesma língua.


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