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Fazer seguro ainda é muito caro no Brasil


Fonte: UAI - Belo Horizonte,MG,Brazil

Por falta de opção, o brasileiro é obrigado a conviver com intempéries, assaltos, pragas, violência, doenças, acidentes de carro e até o risco de vida. Para os nosso padrões, viver seguro é caro. Fazer um pacote completo de seguros de vida, saúde, veículos e residência, incluindo proteção contra roubo, pode custar exatos R$ 12.936 no ano, ou 12 vezes de R$ 1.078.

Nas estradas, a insegurança dá as cartas. Sete a cada 10 motoristas contam com a sorte, e 90% dos caminhões rodam sem a garantia das seguradoras. Apesar de o acesso eficiente à saúde ser um sonho para milhões de pessoas, o percentual da população que contrata o serviço não ultrapassa 25%. Estima-se ainda que menos de 5% dos lares brasileiros têm o seguro residencial. Nas lavouras, mais de 95% não contratam o seguro rural.

No ano passado, o mercado de seguros no país movimentou R$ 67 bilhões, correspondendo a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Parece um percentual significativo, mas não chega nem perto da média de países como Estados Unidos (9%), Japão (10%) e Reino Unido (15%).

Veja os custos para ter uma vida segura

Por questão financeira ou cultural, o brasileiro médio ainda não compra segurança. Com as sobras do salário, ele adquire, no máximo, bens e serviços que possa pagar a prestação e considere essenciais, como planos de saúde ou seguros funerários. "O brasileiro está muito exposto a riscos, seja porque não pode pagar pelo seguro, seja porque não acredita no produto. Culturalmente, ele não tem a mentalidade de proteger a si, aos que o cercam e aos seus bens", afirma Sérgio Duque Estrada, diretor de Proteção ao Seguro da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Seguros de Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSEG).

Os cálculos que chegaram aos R$ 12.936 no ano foram feitos por Samuel Lichter, da Lichter Corretora de Seguros, para atender uma família de classe média alta que mora no Bairro Sion, com idade média de 40 anos para o marido e 36 anos para a mulher, com dois filhos pequenos e dois carros zero quilômetro (um Palio e um Toyota Corolla). Os preços podem variar para menos ou para mais, dependendo da idade dos titulares e dos carros, bairro onde moram e condições exigidas (veja quadro). "Se o titular for fumante, o valor do seguro de vida aumenta. A idade dos pais também poderá encarecer o plano de saúde", compara o corretor de seguros, há 40 anos no mercado.

Nem todo brasileiro está disposto a desembolsar R$ 1 mil por mês em apólices. Na realidade, isso está longe de ocorrer. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 12,6 milhões de brasileiros recebem o salário de R$ 1.660 per capita por mês. Essa minoria de 8,9% da população teria que gastar, todo mês, 60% do seu rendimento só com o pagamento de seguros. "Para o brasileiro, embora o seguro seja importante, ainda não é essencial. Sua renda média não permite incluir um item destinado à proteção da sua família e do seu patrimônio. Ele prefere acreditar ter sido vítima de um infortúnio", diz Neival Freitas, diretor da Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg).

Na família do farmacêutico Bernardo Rocha, por exemplo, nenhum dos quatro carros são segurados. Como os automóveis têm acima de cinco anos de uso, a opção é contar com a sorte. A decisão dele foi calculada na ponta do lápis e tem como motivo o custo da apólice, em média 7% do valor do veículo. "O seguro que deixei de fazer já pagou duas vezes o carro, fabricado em 1988", explica. A conta do farmacêutico é a mesma do arquiteto Murilo Reis. Aos 70 anos, ele teve uma média de dois veículos por ano nos últimos 40 anos. Nunca fez seguro e sempre teve sorte. "Com correção monetária, minha economia é de R$ 200 mil. É claro que alguma coisa pode acontecer, mas deixei de gastar um bom dinheiro", calcula.

"Ninguém aguenta pagar R$ 70 mil pelo seguro de um caminhão", protesta José Carneiro, presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro de Minas. Segundo ele, o transportador que tem 10 caminhões, a cada ano, "ganha" um deixando de fazer o seguro. Em vez de pagar de 8% a 16% sobre o valor do veículo, o caminhoneiro prefere se juntar a uma cooperativa da categoria, pagando mensalidade cotizada entre os colegas. "Quando acontece uma batida ou um roubo, a gente rateia o prejuízo", diz. Ainda assim, paga-se em torno de R$ 3 mil a R$ 5 mil mensais.


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