Notícias

EUA - Bancos reagem contra as reformas e apontam protecionismo


Fonte: Monitor Mercantil - Rio de Janeiro,RJ,Brazil

Com lucros, devolvem apoio estatal e não vêem a hora de voltar às altas bonificações

Bruxelas - A carta de protecionismo jogou - em peso - o setor bancário como contra-argumento às medidas que estão sendo estudadas para um mais severo sistema de fiscalização, assim como à imposição de limites aos vitaminados salários e bonificações.

"Corremos o risco de perder tudo aquilo que temos conseguido, internacionalmente, a exemplo do que ocorreu de 1914 até 1955", "alerta" o último relatório do Instituto de Finanças Internacional (IIF, sigla em inglês).

Porém, ao que tudo indica, as mudanças deverão atrasar para chegar, enquanto bancos e banqueiros estão com pressa para voltar aos seus "antigos, bons hábitos". Por um lado, por exemplo, a proposta do presidente dos EUA, Barack Obama, para "agigantar" o Federal Reserve (Fed), não encontra apoio até de membros do Partido Democrata.

Por outro, o Goldman Sachs não perde tempo. Com desempenhos operacionais recordes no segundo trimestre, devolveu 98% do total de recursos estatais de ajuda que havia recebido em programa o pagamento de US$ 11,4 bilhões em uma época em que a palavra "bonificação" é tabu.

Grandes aumentos nos salários básicos de executivos foram decididos, também, por Citigroup, JP Morgan Chase e Morgan Stanley, no momento em que o Governo Obama está preparando a nomeação de um "czar para salários e bonificações". Este supervisionará a altura dos incentivos econômicos aos executivos de todas as empresas e bancos que estão "sob intervenção" do governo.

A seguradora AIG, que encontra-se sob plena "intervenção" estatal, não programou e muito menos pagou bonificações totalizando US$ 2,4 milhões. Mas, em março deste ano, já havia pago US$ 165 milhões em bonificações a executivos de sua subsidiária que levou o grupo segurador à falência.

Incentivo ao risco

Obviamente, executivos do primeiro escalão do alemão Deutsche Bank, do norte-americano JP Morgan, do espanhol BBVA, do sueco SEB e outros membros da comunidade bancária internacional apoiam os profundos cortes no setor.

Esta, aliás, é a correta postura política em meio à crise financeira. Basta apenas adotá-la em escala mundial, destaca o IIF. Neste sentido manifestou-se, também, o Ministério de Economia da França: "Os governos do G20 deverão eliminar os atrasos e colocarem um ponto final em uma tática de remunerações que incentiva a muitos realizarem investimentos de alto risco".

Por enquanto, todos - norte-americanos, britânicos e europeus - estão discutindo as mudanças no âmbito regulador. Mas é duvidoso até que ponto é viável concluírem todos em decisão comum, quando divergem as condições entre um pais e outro.

Ainda, até nos EUA, onde a crise tem desferido pesado golpe, têm sido manifestadas dúvidas sobre se o Fed poderá corresponder em uma ampliação de suas atribuições para que possa supervisionar todas as empresas do setor que desempenham papel crítico no sistema.

"Mais ou menos, o Fed funciona como capataz da economia, enquanto aquele que assumirá a responsabilidade pela localização de eventuais riscos sistêmicos deverá ser um policial", declarou Cristopher Dod, presidente da Comissão de Bancos do Congresso e membro do Partido Democrata.

Em uma tentativa de reduzir a dimensão das mudanças incluídas nas propostas do governo, o presidente do Fed, Ben Bernanke, declarou que "o Fed funciona assim, de uma ou de outra forma" (?).

Mais fiscalização

Conforme destaca a edição britânica da revista Economist, em direção análoga marcha, também, o Partido Conservador que, ao que tudo indica, formará o próximo governo da Grã-Bretânha. Busca retirar do Banco da Inglaterra (Banco Central) as atribuições destinadas à manutenção da estabilidade do sistema e, também, para fiscalização de alguns bancos isoladamente. Mas o setor bancário do país é muito concentrado em quatro grandes bancos, enquanto, o sistema norte-americano é muito mais numeroso e complicado.

"O resultado (de todas estas conversações) é a cacofonia anti-ordem, inconsequência anticoordenação e um sistema financeiro que está mais surrado do que nunca", declarou o diretor-geral do IIF, Charles Dalara, acrescentando que "deve penetrar na consciência de todos que nenhum grupo desempenha papel tão crítico no sistema para se salvar da catástrofe".

Ainda, de acordo com Dalara, deverá ser criado um âmbito regulador internacional que facilitará o "desmonte" de grupos bancários que já faliram. E o alvo deverão ser setores que tornarão mais seguro o comportamento dos players do setor.

Mary Stassinákis

Sucursal da União Européia.

ELEIÇÕES

Trava-se dura batalha pela presidência da União Européia

Prováveis candidatos: Felipe Gonzalez, Jean-Claude Juncker e até Angela Merkel

Milão - Se, como se espera e todos desejam, os irlandeses votarem em outubro a Convenção de Lisboa, e o presidente da República Tcheca, Valtar Klaus, se der ao trabalho de promulgar dentro do outono a Convenção já aprovada pelo Parlamento de seu país, assim como o Parlamento alemão votar os esclarecimentos constitucionais que exigiu o Supremo Tribunal Federal da Alemanha, então, a Convenção de Lisboa entrará em vigor a partir de 1º de janeiro e, imediatamente, começam as complicações e as dificuldades.

Primeiramente, a eleição do presidente do Conselho da Europa - uma espécie de presidente da União Européia (UE) - e, em seguida, a escolha do supremo representante - que corresponde a ministro de Relações Exteriores - duas completamente novas instituições, sobre cujo conteúdo e atribuições poucas informações são contidas na Convenção de Lisboa, mas sabe-se que o salário do presidente será de 350 mil euros!

O "segredo que todos sabiam", isto é, que Tony Blair está interessado em ser eleito presidente do Conselho da Europa, foi "revelado" semana passada quando seu escritório, respondendo a específica pergunta, pronunciou em tom baixo um "sim" e, apressou-se a completar: "Somente se houver, desde o início, séria possibilidade de vitória."

Realmente, Blair não gostaria de experimentar a "ridicularização de uma derrota" e já há meses que tenta garantir o apoio público dos futuros eleitores, os chefes de Estado e de Governo dos 27 países-membros da UE.

Mas, até o momento, somente Gordon Brown, da Grã-Bretânha, Silvio Berlusconi, da Itália, e José Luis Rodriguez Zapatero, da Espanha, declararam que o votarão, enquanto, Nicolás Sarkozy, da França, não está sendo considerado seu eleitor, embora, na primavera, tenha declarado que o elegeria.

Também, o apoio de Gordon Brown não representa grande peso. Se for obrigado a se demitir e perder as eleições que se seguirão, o governo dos conservadores não apoiará Blair, conforme declarou domingo passado um representante do partido: "Não consideramos que a Europa precisa de um presidente, somos contrários à Convenção de Lisboa e seremos contrários a Blair".

Prós e contras de Blair

Dos demais "grandes" da UE, a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, também é contra o Blair. Diz ela que prefere o ex-primeiro-ministro da Áustria, Wolfgang Susel.

Mas quais são as qualidades de Tony Blair, o qual gerencia - sempre por delegação da UE - suas relações com Israel e os palestinos, sem sucesso algum, infelizmente? Blair é carismático, dispõe de relações de alto nível em escala mundial e, seguramente, dispõe de capacidade administrativa. Contudo, tem sérios pontos negativos.

Como primeiro-ministro da Grã-Bretanha, foi sem reservas a favor da invasão do Iraque, embora os serviços secretos britânicos duvidassem da existência de armas nucleares e mísseis do Saddam Hussein, que foram "descobertos" por George Bush Jr. e Dick Cheney, e apesar do fato de 68% dos britânicos serem contrários à guerra contra o Iraque e quando todos os líderes da (Velha Europa) eram, desde o início, contrários à guerra, será difícil apoiarem um político com quem haviam entrado em choque.

Além disso, Blair traz a "mancha" de ser um amigo sem limites dos EUA, "qualidade" que ele dissimula porque percebeu que os líderes europeus dispõem agora de acesso fácil à "Washington de Obama". Além disso seria algo "não natural" assumir presidência da Europa o político de um país com a maioria dos eurocéticos e o qual, além de não participar da Zona do Euro, tenta detoná-la sempre.

Outros nomes

Entretanto, existem outros (prováveis) candidatos, dispostos a disputar o cargo máximo da Europa. São Felipe González, o qual contará certamente com o apoio de Sarkozy, de Zapatero, da Holanda, Bélgica e dos três países escandinavos. Mas o ponto negativo contra o ex-primeiro-ministro da Espanha não é um talvez duvidoso escândalo de 1996, mas a geografia.

Com a reeleição do português José Manuel Barroso Durão à presidência da Comissão Européia (CE), órgão executivo da UE, será improvável apoiar mais um candidato da Península Ibérica para presidente do Conselho da Europa.

Existem, ainda, dois prováveis candidatos, os quais, aliás, são bem credenciados e com insignificantes pontos negativos, mas até o momento não mostraram, ostensivamente, seu interesse ao cargo. São a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, e o primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker.

Merkel não terá dificuldades para garantir o apoio de Sarkozy e da maioria dos "empoados" líderes da Europa Central e Oriental. A revista alemã Die Spiegel sustenta que a Merkel é segura de sua vitória - com 21 votos a favor e seis contra - se disputar a presidência com o Blair. Mas não mostra muito interesse, pois prefere permanecer como primeira-ministra - algo que é considerado certo e seguro, pois as pesquisas lhe atribuem 80% de votos nas eleições de 27 de setembro - do que disputar a presidência da Europa.

Já Juncker é, seguramente, o líder europeu com a maior aceitação em toda a Europa, a ponto de até os jornais alemães que apoiam a candidatura da Merkel reconhecerem que ele é o único que poderia derrotá-la.

Contudo, tanto Merkel, quanto Sarkozy não apoiarão Juncker numa eventual disputa com Blair. Divergem de Juncker porque apóia o "paraiso fiscal" de seu liliputiano país.

Maria Segre

Sucursal da União Européia.


« Voltar