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Quebra do Lehman Brothers ainda influencia política anticrise dos EUA


Fonte: G1.com.br

Washington, 13 set (EFE).- A resposta do Governo dos Estados Unidos e do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) à crise econômica continua sendo determinada, em grande medida, pelas repercussões geradas pela quebra do banco Lehman Brothers, que em 15 de setembro completará um ano.

As sucessivas injeções de capital nos mercados, as garantias aos depósitos em contas monetárias, a compra de ações de entidades bancárias e outras intervenções públicas ainda em vigor só foram decididas depois que as autoridades americanas resolveram dar as costas ao Lehman Brothers, que tinha 158 anos.

"Vendo agora, está claro que" a decisão do secretário do Tesouro, Henry Paulson, e do presidente do Fed, Ben Bernanke, "foi um erro", disse à Agência Efe John Boyd, assessor do Fed de Mineápolis.

"Na época, o mundo todo achava que os mercados tinham antecipado e previsto a ruína do Lehman Brothers, mas a reação (das autoridades) foi uma surpresa", acrescentou Boyd.

A quebra do banco de investimentos não foi a causa da crise financeira, mas desencadeou uma onda de pânico que quase paralisou os canais financeiros do mundo.

"O sistema financeiro global esteve muito próximo do colapso", admitiu Bernanke numa entrevista concedida em março deste ano.

Os problemas do Lehman Brothers eram conhecidos: a entidade havia contraído uma grande dívida com a compra de ativos, sobretudo títulos hipotecários americanos, que, de uma hora para outra, deixaram de ser atraentes. Na verdade, foi a crise no mercado imobiliário que quebrou o banco.

Uma aposta similar havia sido feita pelo banco de investimentos Bear Stearns. Mas este acabou socorrido pelo Governo, que, ao emprestar US$ 29 bilhões à entidade em março de 2008, viabilizou a compra dela pelo JP Morgan Chase.

"Paulson odiou resgatar o Bear Stearns", disse à Efe uma fonte do sistema financeiro próxima ao atual Governo.

Com acesso privilegiado às contas do Lehman Brothers, o secretário do Tesouro e Bernanke sabiam que este banco seria a próxima vítima das turbulências nos mercados. Nos seis meses seguintes, eles ficaram pensando num jeito de deixar de a entidade falir caso não encontrassem um comprador para ela, destacou a fonte.

O objetivo dos dois era restabelecer a disciplina no mercado com um sinal de que o Governo não seria a tábua de salvação de todos os bancos.

Paulson e Bernanke queriam que os próprios bancos limpassem a lambança que tinham feito e passassem a pensar duas vezes antes de voltar a especular de forma desenfreada.

No entanto, o tiro saiu pela culatra. As autoridades não conseguiram enxergar o alcance dos tentáculos do Lehman Brothers, o que, segundo os analistas, é uma das falhas do sistema americano.

"Um órgão regulador deveria saber se as entidades A e B estão interligadas", afirmou Charles Geisst, professor de Finanças da Manhattan College.

O Lehman Brothers participava de transações no mundo todo, e a presença dele era particularmente importante no mercado de letras de câmbio a curto prazo, que as empresas usam para cobrir despesas usuais, como o pagamento de salários.

De repente, a quebra do banco paralisou esse mercado. Os investidores, assustados, retiraram o dinheiro das contas monetárias, setor com um depósito total de US$ 3,6 trilhões e que financia as transações com letras de câmbio.

Consequentemente, a liberação de créditos foi interrompida, algumas companhias não conseguiram pagar os empregados e o Governo teve que oferecer garantias aos depósitos nessas contas.

Para piorar, as autoridades tiveram que recuar na determinação de não resgatar as entidades financeiras em perigo. Em 16 de setembro, o Fed injetou US$ 85 bilhões na seguradora AIG.

Depois da quebra do Lehman, o banco central percebeu que seria muito difícil encontrar conglomerados que absorvessem as entidades menores e com problemas, destacou Geisst. Os ativos tóxicos se empilhavam nos porões de todos eles.

Diante disso, "o próprio Federal Reserve teve que se fazer presente nos mercados", assumindo funções antes desempenhadas apenas por bancos privados, como conceder empréstimos, acrescentou o analista.

Um ano depois, o braço da entidade segue mergulhado até a metade no sistema financeiro. Tudo para evitar outro colapso como o do Lehman Brothers. EFE


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