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Carregamento de peso


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Fonte:Valor Econômico | Investimentos | SP

Uma parte dos recursos aplicados na previdência privada em dezembro deverá chegar ao fim do primeiro semestre de 2008 sem um centavo de rendimento. Apesar da rentabilidade média de 4,3% dos planos de renda fixa até maio, segundo dados do site Fortuna, e a possível chegada a um ganho de médio de 5% no semestre, esse lucro pode ter sido corroído pelas taxas de carregamento, percentual que incide a cada novo aporte. Algumas seguradoras chegam a cobrar até 5% de encargo sobre qualquer depósito - em geral, quanto menor o valor aplicado e o patrimônio acumulado, maior tende a ser o custo.

Mas isso, a princípio, não é motivo para descartar o PGBL ou VGBL de qualquer portfólio de investimento. Em prazos de décadas, a taxa de carregamento pode ter peso relativo menor em relação ao retorno, pois as vantagens tributárias da previdência tendem a superar esse encargo.

Numa simulação que projeta o retorno líquido segundo a Selic atual de 12,25% ao ano, por exemplo, o aplicador que investir R$ 500 por mês, pagar taxa de carregamento de 5% e ficar no plano apenas seis meses, chegará ao fim com rentabilidade bruta de R$ 2.919,84, ou seja, menos do que os R$ 3 mil que teria aplicado.

A boa notícia é que cada vez mais as seguradoras têm planos alternativos para a cobrança da taxa de carregamento - que banca a distribuição dos fundos - e que, muitas vezes, o aplicador pode até ficar isento da taxa, dependendo do plano que encontrar. A competição do mercado e a redução dos ganhos quando o juro estava em queda têm feito mais e mais companhias oferecerem descontos ou pacotes especiais para aliviar o encargo.

Antes, era padrão a seguradora apresentar uma tabela de taxas decrescentes, conforme o aporte ou o patrimônio acumulado pelo cliente. Diversas seguradoras, por exemplo, têm planos em que essa taxa é cobrada no momento dos resgates, em vez dos aportes, e apenas se o participante ficar no plano por pouco tempo. Em geral, as taxas cobradas na saída decrescem conforme o período da aplicação e tornam-se nulas após alguns anos. "É um estímulo e, ao mesmo tempo, uma vantagem para o investidor de longo prazo", diz Renato Russo, diretor da Federação Nacional da Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) e vice-presidente de previdência e vida da SulAmérica. Para ele, essa é uma tendência para qual deve seguir todo o mercado.

O motivo dessa agitação para se rever as taxas é simples. O investidor de um VGBL de renda fixa popular de uma das grandes seguradoras do mercado, por exemplo, viu sua rentabilidade nominal cair de 15,93% em 2005, para 12,02% em 2006 e 8,20% no ano passado. Nos últimos 12 meses até março, o ganho caía a 7,75%, segundo o extrato enviado pela seguradora. Esse investidor deu-se conta de que, pagando carregamento de 5%, sobrava um retorno líquido muito pequeno para ele ao fim do ano. Assim, ele decidiu optar por outro plano, que lhe cobrava taxa de carregamento menor.

Segundo as seguradoras, o carregamento varia conforme o saldo porque pesam mais os custos de distribuição para os clientes menores. Se é cobrada taxa de carregamento de 4% de alguém que investe R$ 20, isso vai equivaler a R$ 0,80. O valor absoluto é menor do que o custo de postagem de uma fatura. Por isso, quando se investe mais, obtêm-se taxas menores.

O mesmo pode acontecer com o participante que já acumula bom patrimônio no fundo. As seguradoras costumam baratear o carregamento conforme o saldo sobe, independentemente de mantidos os valores dos aportes mensais. Se a seguradora não fizer isso, o participante poderá usar o saldo para barganhar taxas menores entre as concorrentes. Nessa comparação, ele deve levar em conta também a taxa de administração cobrada anualmente nos planos, que banca a gestão dos recursos aplicados. A taxa de carregamento, embora muitas vezes salgada, tem um caráter educativo e punitivo para aqueles que aplicam por prazos curtos.

No longo prazo, mesmo com uma taxa de carregamento elevada, a previdência privada pode ter bom retorno, principalmente por conta dos benefícios fiscais. Mas o aplicador deve estar atento para o quanto vai gastar para bancar esse encargo. Em dez anos, por exemplo, nas mesmas condições de aplicação, o participante que bancar 5% de taxa de carregamento terá retorno bruto de R$ 106.810,73. Se nunca tivesse pago carregamento, a quantia subiria a R$ 112.432,34. A diferença pode parecer pequena, olhando-se lado a lado quantias tão altas, mas o aplicador que bancou pedágio de 5% tem de se dar conta de que a diferença de R$ 5.621,62 se deve apenas ao carregamento. Em vinte anos, o preço cobrado do aplicador subiria a R$ 23 mil.

Ao começar a aplicar e, principalmente, para quem já investe, Antonio Cássio dos Santos, presidente da Fenaprevi e da Mapfre Seguros, diz ser necessário que se pergunte o custo dessa taxa para a segurador. "Na medida em que os aportes crescem, as taxas de carregamento tendem a cair."

Na entrada ou na saída, é fato que as taxas de carregamento têm caído, ratifica Renato Russo, da SulAmérica. Hoje já se encontra planos que cobram carregamento nos resgates e apenas se o dinheiro ficar no planos por período muito curto, como uns dois anos, por exemplo.

Juvêncio Braga, também diretor da Fenaprevi e executivo à frente da área de previdência da Caixa, diz que o mercado todo tem se alinhado para cobrar menos dos aplicadores. A Caixa, assim como no caso da SulAmérica e da Mongeral, lançou nos últimos meses uma família diferenciada de planos de previdência com cobranças alternativas, que podem sair mais baratas.


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